Consumir carne vegetal é a melhor estratégia para quem é vegetariano?
Por Rita Lobo - 10 de março de 2021
Muita gente está diminuindo o consumo de carne. E isso pode ser ótimo para a saúde do corpo, do bolso e do planeta. No entanto, essa tendência é um prato cheio para a bilionária indústria de ultraprocessados convencer você a comer a chamada 'carne vegetal'. Em termos de saúde, será que essa substituição é a melhor estratégia?
Quem responde a questão é a prof. Patrícia Jaime, titular do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP. "Não, essa não é a melhor estratégia. É natural que isso aconteça, mas a maior sacada que você tem quando resolve parar de comer carne, ou mesmo reduzir o consumo, é usar outros grupos alimentares como protagonistas nas refeições", diz Patrícia.
Abaixo, mais dessa conversa rica em dicas para você garantir uma alimentação saudável de verdade, com menos ou até sem carne — e certamente sem produtos ultraprocessados que imitam o alimento.
Quando se trata de parar ou diminuir o consumo da carne, a saída óbvia é a da substituição, ou seja, trocar a carne por, por exemplo, uma carne vegetal... Mas, será que essa é a melhor estratégia?
Não. É natural que isso aconteça, mas a maior sacada que você tem quando resolve parar ou reduzir o consumo de carne, é descobrir outros grupos alimentares como protagonistas nas refeições. Trazer as hortaliças, os cereais, as leguminosas, que são importantes fontes de proteína. Esses novos grupos alimentares, quando combinados e variados, trazem adequação nutricional para a refeição. E mais do que isso: trazem diversidade, sabor, e prazer para a alimentação.
"Trazer as hortaliças, os cereais, as leguminosas, que são importantes fontes de proteína."
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Quer dizer: nessa busca por um alimento que não é carne, mas que se parece com a carne, a gente acaba abrindo a porta para a imitação de comida, o que não é legal. Mesmo tendo tantas opções de comida de verdade para manter uma alimentação saudável.
É impossível, Rita, trocar ou criar um substituto do alimento in natura ou minimamente processado. As opções que a gente tem no mercado são substitutos de produtos cárneos ultraprocessados, como os nuggets, salsichas, hambúrguer. O que se aproxima, a partir da indústria de alimentos, é o paladar do consumidor aos aditivos, aos flavorizantes, e não necessariamente ao gosto da carne in natura.
"Não dá para simular uma picanha, um músculo, ou mesmo peixe e frango in natura. A grande sacada é introduzir outros grupos alimentares, e não pensar em um substituto da carne. isso aumenta os riscos de consumo de alimentos ultraprocessados."
Agora, e a proteína de soja, professora? É imitação de comida ou é um produto saudável?
A proteína texturizada de soja, quando não leva outros produtos químicos, pode ser uma opção eventual. Como por exemplo para substituir a carne moída. Isso porque ela se aproxima do uso culinário da carne moída - vai ser preparada, temperada… A grande questão é evitar a monotonia substituindo a carne exclusivamente pela soja. A variedade de grupos alimentares estimula um sistema alimentar que é mais diverso, saudável e sustentável.
Assista à entrevista completa no Cozinha Prática inédito que vai ao ar hoje, às 21h30, no canal GNT.
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É interessante isso que você está dizendo sobre repensar a alimentação. A gente cresceu acostumado a organizar o prato em torno de um protagonista, de um eixo, que é a carne – ou o frango, o peixe. E o pulo do gato, quando você faz a opção de não comer carne, é mudar essa lógica, né?
Essa é uma ótima estratégia. Não só para quem deixou de comer carne, mas para quem quer diminuir o consumo: tirar a carne deste lugar de protagonista da refeição e introduzir outros grupos alimentares como as hortaliças. Há uma grande preocupação em relação à adequação nutricional dessa refeição, já que a gente sabe que as carnes são alimentos fontes de proteína. Dependendo da opção alimentar da pessoa, ela pode introduzir outras fontes proteicas animais - como por exemplo o ovo, que é uma opção excelente do ponto de vista nutricional. Mas, se foi feita uma opção de excluir todos os alimentos de origem animal, as leguminosas passam a ter um papel central na adequação proteica da dieta.
DICAS para o dia a dia sem carne
Agora que você já entendeu como funciona na teoria, chamei outra especialista para dar dicas de receitas. A Carolina Stamillo, chefe da cozinha de testes do Panelinha. Ela, que entende tu-do de cozinha, tem ideias muito legais para você:
- Quibe também pode ser preparado com abóbora
- Aborinha recheada de... ricota!
- A torta madalena pode levar escarola no recheio.
- Lasanha também vai muito bem com cogumelos.
- Paqueca com recheio de espinafre.
- Pastel de palmito, queijo...
- Até as almôndegas podem ser preparadas sem carne. Como? Com berinjela.
No especial Panelinha de Receitas sem Carne tem muitas receitas com passo a passo explicadinho.