O misterioso caso da bandeja de brigadeiros
Por Rita Lobo - 07 de setembro de 2017
A receita pode ter sido feita mil vezes, mas quando vai para o um projeto novo, testamos novamente. Mesmo que seja o bolo de aniversário que preparo ano após ano para os meus filhos. Quando cozinho em casa, não preciso me preocupar se a tigela de inox vai refletir os câmeras, nem se o público vai conseguir enxergar o que está dentro da panela. Também não deixo a ganache estragar na geladeira para saber quanto tempo ela dura, nem meço tim-tim por tim-tim quanto de nibs de cacau é preciso para enrolar os brigadeiros sem faltar nem sobrar. Testamos quantidades, cortes, etapas de preparo, layout... Quem acompanha o perfil @cozinhapanelinha no Instagram sabe bem disso!
Semanas antes da gravação do programa que está no ar esta semana, a equipe da cozinha preparou uma bandeja lotada de brigadeiros, cobriu com filme e deixou um aviso escrito: NÃO COMER! Era para testar a durabilidade. Mas virou teste de resistência. Como resistir?! Já notou que tudo que é proibido é mais gostoso? E, a cada dia, sumiam dois ou três brigadeiros...
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Talvez esse seja um dos grandes paradoxos das dietas restritivas por opção (não é o caso de quem é alérgico): ela transforma a comida em inimigo e a relação que deveria ser de prazer vira culpa. Quando o brigadeiro é proibido, ele vira inimigo; em vez de comer dois ou três na festinha de aniversário, a vontade é de matar a bandeja inteira. E, muitas vezes, é isso mesmo que acaba acontecendo!
Temos que repensar a nossa relação com a comida: dieta não é sinônimo de alimentação saudável
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Muita, mas muita gente confunde alimentação saudável com dieta. E uma coisa não tem nada a ver com a outra. Alimentação saudável pressupõe variação. Já dieta, restrição. No Brasil, temos um padrão alimentar tradicional espetacular. Ele foi sendo elaborado pela população no decorrer de centenas de anos. E o melhor: leva em conta não apenas a nossa história e os nossos hábitos, mas os alimentos que temos em abundância no país. É por isso que, para quem vive por aqui, o padrão simbolizado pelo arroz e feijão, ou pelo pê-efe, é inúmeras vezes melhor do que a dieta mediterrânea, por exemplo. Ela é excelente para quem vive no Mediterrâneo, porque leva em consideração os hábitos e os alimentos daquela região.
Conheça o Guia Alimentar para a População Brasileira
Dentro de uma alimentação saudável de verdade, baseada em preparações culinárias feitas a partir de alimentos in natura e minimamente processados, cabe comer brigadeiro nas comemorações. (O que não cabe é trocar almoço por doce, nem jantar por shake diet depois de almoçar brigadeiro.) Se quiser entender dinheitinho essa história, minha sugestão é que você devore o Guia Alimentar para a População Brasileira. Além de conhecer a classificação dos alimentos por grau de processamento, você vai reconhecer o nosso padrão alimentar e se libertar das dietas da moda.
Quanto aos brigadeiros, confesso: fui eu. Comi muitos brigadeiros dos testes! E eles pareciam estar especialmente deliciosos por causa da proibição.
MEU ACERVO
Muita gente pergunta sobre as minhas louças. Como combina, onde compra? Esse acervo vem sendo construído há mais de 20 anos! Todo ano viajo para adquirir peças, mas também já ganhei e herdei muita coisa. Como o assunto da temporada tem a ver com memória, nas redes, resolvi contar também a história de algumas peças que uso nos episódios.