Prato Feito Brasil, minha série documental na Globo
Por Rita Lobo - 16 de dezembro de 2023
Há anos venho contando pra todo mundo que cozinhar é como ler e escrever: todo deveria saber – e que todo mundo consegue. E, de vez em quando, ainda compro uma briguinha com quem não sabe nem fritar um ovo e diz que o motivo é a falta de dom. Depois de quase 30 anos ensinando todo mundo a cozinhar, afirmo sem hesitação: cozinhar é aprendizado. Claro que tem gente com mais ou com menos habilidade pra coisa. Mas só não aprende quem não quer – ou quem não precisa.
Outro ponto que também não me canso de dizer, e vivo levando umas alfinetadas por isso, é que alimentação não é assunto de dona de casa, é de todos os responsáveis pela casa. Pra muita gente, isso é uma afronta: como assim a cozinha não é domínio exclusivo das mulheres? Quando eu digo que, nos dias de hoje, sem divisão de tarefas fica muito difícil garantir comida de verdade na mesa todos os dias, tem gente que até vira a cara!
O meu terceiro grande aprendizado sobre alimentação foi na realidade uma constatação: por trás do nosso prato feito de arroz com feijão há uma fórmula de alimentação saudável. E descobri isso quando fiz um projeto sobre introdução alimentar dos bebês. (Comida de bebê é um livro, que tem também série no YouTube e receitas no site Panelinha.)
Pois é, se eu tivesse que resumir os principais conceitos que aprendi sobre alimentação saudável durante a minha carreira, seriam esses três:
- quem cozinha faz melhores escolhas
- sem divisão de tarefas fica muito difícil garantir comida de verdade na mesa (no caso de quem mora sozinho, o segredo é o planejamento)
- o prato feito é uma fórmula que reúne de forma balanceada os quatro grupos alimentares essenciais na nossa alimentação.
Claro que cada um desses pontos engloba um monte de outros conceitos. Aprender a cozinhar tem a ver com saber diferenciar comida de verdade de ultraprocessados, divisão de tarefas coloca o pé no chão e ensina a valorizar as coisas essenciais e, o prato feito, ah, o prato feito é uma aula de nutrição! Tem a ver com planejamento, com incluir mais legumes e verduras no prato, comer menos carne… São muitos aprendizados! Sem falar que o prato feito tem a ver com a nossa história, com a nossa cultura… A gente é mais brasileiro porque come arroz com feijão
Um documentário sobre o arroz com feijão
Um pouquinho antes da pandemia, comecei a rabiscar uma série documental. A ideia era fazer um projeto que celebrasse a comida de verdade, os cozinheiros e cozinheiras que diariamente garantem o arroz com feijão em casa, que valorizasse a riqueza da nossa alimentação. E, pra minha surpresa, a TV Globo topou produzir.
Só começamos a trabalhar nela no fim de 2022. Entre negociação, desenvolvimento, pré-produção, produção, captação, edição, promoção e tudo mais que leva pra colocar no ar uma série como essa, levamos um pouquinho mais de um ano, até que o Prato Feito Brasil estivesse no ar!
PRATO FEITO BRASIL FOI AO AR NA TV GLOBO EM NOVEMBRO DE 2023 E AGORA ESTÁ DISPONÍVEL NO GLOBOPLAY
São quatro episódios no total. Cada um numa região do país. E em cada uma, a gente explora um grupo alimentar. O grupo dos feijões na Bahia, o do arroz no Rio Grande do Sul, o das hortaliças em Minas e o grupo das carnes no Pará – justamente porque lá o que as pessoas mais gostam de comer é peixe!
Mas isso foi só o rabisco inicial. A partir daí foi uma grande aventura, desenhada a muitas mãos. Em cada uma das viagens visitei mercados, feiras e até uma escola pública. E fui na casa de pessoas muito diferentes, mas que fazem questão de comer comida de verdade todos os dias.
Os temperos, o jeito de cozinhar os ingredientes, tudo pode variar. Mas é incrível como de norte a sul, as casas servem refeições que têm exatamente a mesma estrutura: arroz, feijão, algum tipo de carne e mais verduras e legumes. Em alguns lugares tem farinha, em outros macarrão, mas o nosso jeitão de comer é muito parecido.
A GENTE É MAIS BRASILIERO PORQUE COME ARROZ COM FEIJÃO
Nas gravações, conheci pessoas incríveis, como a Zânia, que tem uma barraca de feijão verde na Ceasa da cidade. Ela incentiva os clientes a variar os sabores, indicando receitas que testa em casa. Juntas, fomos almoçar na casa de uma família muito especial: o pai faz questão de cozinhar no dia a dia pra ficar mais perto dos filhos e da mulher, que também é cozinheira de mão cheia.
Em Belém, fui apresentada à Dilcilene, que quando chegou à cidade, há uma década, começou a trabalhar como diarista e hoje em dia cozinha nas casas de dois clientes. Ela me levou até a comunidade onde nasceu, no meio da floresta, e lá preparamos um pê-efe típico da região.
Em Minas, os garotos de uma república de estudantes de Ouro Preto alimentaram a minha alma! Eles mostraram na prática como é que se aplica o planejamento semanal, a divisão de tarefas e fazem questão de comer comida de verdade todos os dias. O almoço, preparado por duplas de forma rotativa, sempre tem arroz, feijão, alguma carne e, pelo menos, duas hortaliças. Que orgulho desses meninos!
No Rio Grande do Sul, fui parar na casa de uma jovem família, que também se reveza no preparo das refeições. E eles me levaram até a casa da avó, no interior do estado.
COM DIVISÃO DE TAREFAS, FICA MAIS FÁCIL GARANTIR COMIDA DE VERDADE NA MESA TODOS OS DIAS.
Foi lindo ver como as pessoas valorizam as próprias tradições. E eu sabia que durante as gravações do Prato Feito iria me deliciar com a diversidade e riqueza da nossa alimentação. Mas não imaginei que iria encontrar tanta gente inspiradora. Tem que assistir pra ver! Não tem como não se emocionar.
PRATO FEITO BRASIL ESTÁ DISPONÍVEL NO GLOBOPLAY
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