Lélia Gonzalez, intelectual pioneira, feminista e antirracista
Por Rita Lobo - 27 de março de 2022
Quando comecei a pesquisar biografias de mulheres que impactaram a vida de todos, para escolher quais seriam as doze personagens da temporada Cardápios com História, um nome aparecia em toda conversa, leitura, troca: Lélia Gonzalez.
Lélia foi gigante. Na década de 70, virou uma intelectual importantíssima. Antropóloga e socióloga, ela mudou a maneira como entendemos o racismo. Se hoje o racismo é mais evidente e, portanto, pode ser mais combatido, muito disso se deve ao trabalho dela. Não é pouca coisa.
A biografia dessa mulher tão incrÍVEL Abre A temporada Cardápios com História.
Para ter um olhar mais aprofundado sobre a vida dela, converso no episódio com Melina Lima, historiadora que é neta de Lélia e estuda seu legado. O papo foi muito legal, porque ela traz uma perspectiva muito especial:
"Quando penso em minha vó, a primeira coisa que me vêm à cabeça é potência. A Lélia acreditava muito no ativismo, numa época em que o óbvio não era óbvio. Ela ia pras ruas, pra sala de aula, pra onde quer que fosse mostrando e apontando a crueldade e a estruturação do racismo. Todo mundo parava e ouvia o que ela tava falando. Ela era uma figura inteira, muito carismática e muito necessária."
Necessária e pioneira. Lélia enxergou a ligação entre o feminismo e o combate ao racismo e com um olhar bem brasileiro. Foi além, se aprofundou ainda mais e criou o conceito de feminismo afro-latino-americano. Ela entendeu que as mulheres latinas têm muito em comum, mais do que com as europeias, por exemplo.
Mineira, de família bem grande, era a penúltima de 18 irmãos. Quando ela tinha sete anos, um dos irmãos foi chamado para ser jogador de futebol no Flamengo. A família toda se mudou pro Rio de Janeiro em busca de uma vida melhor.
A mãe dela era empregada doméstica e foi trabalhar na casa de uma família italiana. Os patrões notaram o tanto que ela era inteligente e se ofereceram pra pagar os estudos dela. Será que eles poderiam imaginar que estavam contribuindo para a história do pensamento feminista e antirracista no Brasil?
Cardápio do episódio
Da infância em Minas, fui em busca de algum preparo muito especial. A entrada é uma jóia da culinária mineira: pastel de angu recheado de queijo. Angu é puro pretuguês, esse grande achado de Lélia, de trazer para o primeiro plano as palavras de origem africana que usamos tão cotidianamente na língua portuguesa que nos relembram as valiosas heranças da tradição africana, especialmente à mesa.
Para o prato principal, imaginei o almoço dessa família enorme e quis montar uma mesa com muitos acompanhamentos. No centro, carne moída com quiabo. Servida com farofa de amendoim com gengibre e chips de banana-da-terra.
Para a sobremesa, vamos de semifredo de doce de leite com café, uma versão bem brasileira dessa sobremesa de origem italiana.
PLANO DE ATAQUE
É muita receita boa! Para deixar tudo bem prático, mostro o preparo das receitas seguindo um plano de ataque para você otimizar o tempo na cozinha em casa. Vai ser assim: enquanto o semifredo gela no congelador, a gente prepara o prato principal e todos os acompanhamentos numa ordem bem calculada para que o tempo renda e tudo fique pronto juntinho.
Não vai perder, hein! Já coloca o alarme no celular. O primeiro episódio de Cozinha Prática: Cardápios com História vai ao ar terça (29), às 20h45.