Lembrança de Minas

Existe um tipo de memória que não está registrada no cérebro, acho eu. Minha avó é húngara, mas veio ainda criança para o Brasil. Mocinha, casou-se com um italiano, meu avô, e, de certa forma, tentou esquecer as origens. Não ensinou sequer uma palavra de húngaro aos filhos.

Há quase 10 anos, fui para Hungria. O voo fazia uma rápida conexão em Paris (rápida demais, por sinal: eu precisava de pelo menos uns três dias). Fiquei menos de 1 hora no aeroporto e entrei no avião da Malév Hungarian Airlines com destino a Budapeste. Assim que me sentei e ouvi aos anúncios da comissária de bordo fui acometida por uma crise de choro. Algo muito difícil de explicar. A língua me fez chorar compulsivamente. Descontroladamente. Uma cena patética. Como é que você explicaria para a aeromoça que está chorando por reconhecer uma língua que nunca ouviu? Ela tinha certeza de que era pânico. Ofereceu um copo de água com açúcar – e sabe-se lá o que mais. Dormi.

Outros horizontes

Quando eu tinha um ano de idade, meus pais se mudaram para Belo Horizonte. Moramos lá um ano, até voltarmos para São Paulo. Não me lembro de absolutamente nada dessa fase. Mas sei que fomos muito felizes. Minha mãe adorou morar em Minas com filhos pequenos.

Ainda na infância, mas já morando em São Paulo, fomos conhecer as cidades históricas de Minas. Meus pais, eu e meus irmão, Fabio, o mais velho, e Guilherme, o caçula. Dessas férias tenho algumas lembranças, mas nada muito específico. Gostei das cores, das casas, das igrejas. É disso que me lembro.

Agora em julho, Fabio e eu decidimos voltar com as nossas famílias. Ele, a mulher, os dois filhos; meu marido, as crianças e eu. Fomos apenas a Ouro Preto, das cidades históricas, pois queríamos visitar também Inhotim. Uma semana sem parar de passear. E, dessa vez, pude perceber melhor algo que, nas férias da infância, não teria notado. Fui invadida por uma alegria, um bem estar, algo que não é muito comum para mim. (Eu sempre estou incomodada com alguma coisa.)

Porco e cachaça

É possível que essa alegria, de alguma forma, reverbere no Cozinha Prática de hoje. A cozinha mineira foi a inspiração para o episódio inédito, que vai ao ar às 20h30 no canal GNT. Mas não vou preparar uma receita tradicional. Decidi juntar na mesma panela porco e cachaça e preparar um pernil facílimo de fazer. Ele pode ser servido como prato principal, como na foto, e também vira sanduichinho pra receber os amigos de um jeito bem informal. A ambrosia, bem comum em Minas também, ganhou versão express, com leite em pó (e funciona, claro!).

Outro ingrediente que não falta na cozinha mineira é a goiabada. Mas em vez de servi-la na sobremesa, preparei um molho de pimenta com goiabada, que ficou perfeito com o sabor do pernil. A receita você confere amanhã aqui no blog, ou hoje, no programa.

Um detalhe: na hora de arrumar o cabelo pra gravar, queria fazer uma leve referência ao estilo Brasil Império, com direito a tiara de pedras e tudo. Resultado, olha a cara de húngara que eu fiquei!

Veja aqui as receitas do episódio:

Pernil de porco na panela de pressão

Ambrosia rápida de leite em pó

Fotos: Ricardo Toscani

Horários alternativos do Cozinha Prática com Rita Lobo no canal GNT: quarta, às 6h, 10h30 e 18h30 /sexta, às 19h / sábado, às 8h30 e às 17h /domingo, às 5h30