Ultraprocessados: o mundo precisa de mudanças já!
Por Rita Lobo - 20 de novembro de 2025
Publicação médica discute o impacto dos alimentos ultraprocessados na vida das pessoas e alerta para a necessidades de ações urgentes
Contei nas minhas redes sociais que estou em Londres pro lançamento da Lancet Series, que é uma publicação médica das mais importantes do mundo e que, nesta edição especial, discute os alimentos ultraprocessados.
A “Série The Lancet sobre Alimentos Ultraprocessados e Saúde Humana” foi baseada em artigos de 43 cientistas de diversos países, que mostram que os alimentos ultraprocessados estão substituindo os alimentos in natura e minimamente processados nas refeições, piorando a qualidade da dieta e causando um aumento do risco de diversas doenças crônicas.
Eles dizem que, embora novas pesquisas sobre o tema sejam bem-vindas, é importante que aconteça o quanto antes uma reforma política em escala mundial. Ações imediatas e decisivas de saúde pública precisam ser tomadas para enfrentar os alimentos ultraprocessados e melhorar o que as pessoas comem, no mundo todo.
Não por acaso, sempre digo que aprender a cozinhar é a melhor ferramenta para evitar os ultraprocessados e garantir comida de verdade na alimentação. E nós, brasileiros, já saímos na frente, porque temos um padrão alimentar tradicional balanceado. Isso quer dizer que a nossa dieta brasileira, simbolizada pelo pê-efe, é praticamente uma fórmula: o pê-efe reúne de forma equilibrada os principais grupos alimentares, sem que a gente tenha que quebrar a cabeça diariamente com o que vamos comer.
Mas cozinhar não pode ser visto como dom, arte, uma responsabilidade da mulher. Cozinhar é uma habilidade humana que todos podem, e devem, aprender. E esse foi um dos assuntos da minha fala no evento de lançamento da revista, em Londres.
A Lancet Series fala ainda sobre a necessidade de políticas públicas que incentivem uma mudança de hábitos alimentares. Ações coordenadas são necessárias pra reduzir a produção, a publicidade e o consumo de ultraprocessados, ao mesmo tempo em que se combate o alto teor de gordura, açúcar e sal.
O marketing pesado dos ultraprocessados leva as pessoas ao engano. Muita gente acha que está fazendo boas escolhas, ao consumir pão de forma integral, iogurte proteico ou refrigerante zero, mas, na verdade, está se alimentando de produtos ultraprocessados, feitos a partir de ingredientes industriais, como xarope de glicose/frutose, gorduras hidrogenadas, isolados proteicos e aditivos químicos e cosméticos (como corantes, adoçantes artificiais e emulsificantes).
As pesquisas retratadas nos artigos da Lancet Series mostram que o consumo de ultraprocessados está em ascensão em diversos países. A participação calórica dos ultraprocessados nas compras domiciliares ou no consumo alimentar diário aumentou de 10% para 23% no Brasil nas últimas quatro décadas. E existem países com situações ainda mais graves. Nos Estados Unidos e Reino Unido, o consumo manteve-se acima de 50% nas últimas duas décadas, com um leve crescimento.
As evidências mostram que, entre as doenças crônicas mais associadas ao consumo de ultraprocessados estão obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, depressão e morte precoce por todas as causas.
A crise é global, mas a publicação também aponta caminhos. Melhorar os hábitos alimentares no mundo todo exige políticas específicas para os ultraprocessados, a fim de complementar as legislações já existentes voltadas à redução da quantidade de
gorduras, sal e açúcar nos alimentos. Além disso, é importante que apareçam nos rótulos frontais das embalagens os nomes dos ingredientes que caracterizam os ultraprocessados – como corantes, aromatizantes e adoçantes. Outra proposta tem a ver com a regulamentação da publicidade desses produtos.
Justamente um dos assuntos que eu levei pra Londres: a forma como a gente fala sobre alimentação também importa e molda o que a gente come. Os alimentos ultraprocessados são o oposto exato da comida de verdade — não apenas do ponto de vista nutricional, mas também social, cultural, sensorial e até linguístico.
Já notou que quem se refere à carne como “proteína”, ao pão como “carboidrato”, e em vez de simplesmente beber água, vai se “hidratar”, está mais propenso a consumir ultraprocessados, mesmo sem perceber? Esse tipo de nutricionismo facilita o marketing de iogurtes “ricos em proteína”, pães “sem glúten” (mesmo quando não há necessidades especiais de alimentação), isotônicos e muitos outros produtos.
Com vendas anuais globais de US$ 1,9 trilhão, os ultraprocessados representam o setor mais lucrativo da indústria alimentícia. É um desafio gigante ir na contramão desse negócio, mas é importante que o mundo todo esteja olhando para isso. E estar aqui é também uma honra e um grande reconhecimento do trabalho que a gente vem fazendo há tantos anos no Panelinha, ajudando você a fazer melhores escolhas, a se alimentar melhor.
Aprender a identificar os ultraprocessados e evitar esse tipo de produto não é brincadeira. E aprender a cozinhar e fazer as pazes com a comida de verdade, é muito mais sério do que essa indústria quer que você acredite.
Bom, você sabe mas não custa lembrar, todas as minhas receitas, que são 100% comida de verdade, estão aqui no Panelinha.
Me acompanhe em todas as plataformas:
No Instagram: @RitaLobo e @Panelinha_RitaLobo
No Facebook: Rita Lobo e Panelinha
No YouTube: @SitePanelinha