Mais pesquisas comprovam que ultraprocessado faz mal
Por Rita Lobo - 14 de junho de 2019
O termo ultraprocessado não é novidade para quem acompanha o Panelinha. Há tempos falamos sobre a recomendação de excluir esse tipo de produto da sua alimentação. A novidade é que a classificação dos alimentos por grau de processamento vem repercutindo internacionalmente em novas publicações científicas que comprovam os danos que os ultraprocessados causam à saúde.
Na semana passada, enviei uma newsletter sobre o estudo clínico norte-americano do NIH (Instituto Nacional de Saúde), que comprovou a relação direta entre basear a alimentação em ultraprocessados e o ganho de peso. Hoje, você está recebendo mais uma edição extra com informações científicas, porque o resultado das pesquisas reforça a importância de cozinhar – e você sabe, o meu trabalho é levar você para a cozinha!
A ligação entre excluir ultraprocessados e passar a cozinhar não é evidente para todas as pessoas. Mas este entendimento é justamente a base do convênio entre o Panelinha e o NUPENS, o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP.
Faço aqui um pequeno parênteses: a classificação dos alimentos por grau de processamento, ou classificação NOVA, que tem chacoalhado o mundo da ciência, foi desenvolvida pelo NUPENS, sob a coordenação do prof. Carlos Monteiro. Desde 2016, o NUPENS e o Panelinha uniram forças para divulgar informação sobre alimentação saudável com respaldo científico. Desta parceria já nasceram vários projetos, como O Que Tem na Geladeira?, a coleção Já pra Cozinha, o curso Comida de Verdade e o blog Alimentação Saudável.
A seguir, veja algumas das novas publicações científicas. Vale a pena ler com atenção. Assim, quando bater um desânimo, seja na hora de planejar o cardápio, de cozinhar ou mesmo de lavar a louça, você vai se lembrar que dedicar tempo à comida de verdade é a escolha certa para a sua saúde – e da família. (Obs.: investir numa lava-louças também ajuda!)
Inglaterra: publicação científica dedica edição aos males dos ultraprocessados
O British Medical Journal, uma das publicações científicas mais influentes da área médica, dedicou seu editorial da edição de 29 de maio aos males que os produtos ultraprocessados causam à saúde. "Nos dez anos desde que os pesquisadores brasileiros cunharam o termo 'produtos ultraprocessados' cresce a quantidade de evidências científicas associando o consumo desses produtos a riscos de doenças e condições médicas, como obesidade e síndromes metabólicas", diz o editorial da edição que traz estudos sobre o tema.
França: pesquisa associa ultraprocessados a doenças no coração
O NutriNet-Santé é um estudo epidemiológico criado há dez anos na França e que tem como objetivo investigar as relações entre alimentação e saúde. Baseado em cadastro online, acompanha a dieta de centenas de milhares de franceses. Em uma das pesquisas baseadas nos dados do estudo, ficou comprovada a associação entre o consumo de ultraprocessados e o aumento na incidência de doenças cardiovasculares, coronárias e cerebrovasculares.
Leia a pesquisa completa (em inglês) aqui.
Usando a base do NutriNet-Santé, e também publicado pelo British Medical Journal, outro estudo apontou que o aumento de 10% no consumo de produtos ultraprocessados leva a um aumento de mais de 10% nas chances de desenvolver câncer.
Leia a pesquisa completa (em inglês) aqui.
Espanha: estudo relaciona ultraprocessados a todas as causas de morte
Pesquisa na Universidade de Navarra monitorou os índices de saúde de 20 mil participantes entre 1998 e 2014. A pesquisa também está inserida dentro de um estudo maior, o do Seguimiento Universidad de Navarra, que, como o NutriNet-Santé francês, é um banco de dados com informações de alimentação e saúde de centenas de milhares de pessoas. Este estudo estabeleceu relação entre o consumo de grande quantidade de produtos ultraprocessados (mais de quatro porções por dia) e o aumento nos índices de mortalidade por qualquer causa (62% mais chances na comparação com quem consumiu 2 porções).
Leia a pesquisa completa (em inglês) aqui.
Brasil: livro explora os fundamentos científicos do Guia
O Guia Alimentar para a População Brasileira é referência mundial. Baseado na classificação dos alimentos por grau de processamento, influenciou a revisão de guias de outros países, como França e Canadá. O livro ‘Alimentação e saúde: a fundamentação científica do Guia Alimentar para a População Brasileira’, da pesquisadora Maria Laura da Costa Louzada, com Daniela Silva Canella, Patrícia Constante Jaime e Carlos Augusto Monteiro, apresenta os fundamentos científicos que embasam o Guia. O livro reúne, por exemplo, estudos epidemiológicos que associam o aumento global do consumo de ultraprocessados à epidemia de obesidade e evidências de como os hábitos alimentares influenciam na dieta.
Leia o livro aqui.
Você, que frequenta o Panelinha, já sabe que é importante excluir os ultraprocessados da mesa. Com a publicação de cada vez mais pesquisas e com a repercussão do assunto no meio científico, mais gente vai entender o mal que esses produtos fazem à saúde. Espero que, com o tempo, todos possam perceber que a melhor maneira de manter uma alimentação saudável de verdade é preparar as refeições em casa. É voltar para a cozinha.
Se precisar de ajuda para trocar a imitação de comida por comida de verdade, pode chamar. Eu e minha equipe estamos aqui para ajudar você a cuidar da saúde e até das relacões afetivas. Dividir com a família uma receita feita e temperada em casa é um grande prazer!