Ingredientes da sorte
Por Rita Lobo - 12 de dezembro de 2011
Assim que a revista Lola chega às bancas, venho correndo aqui para o blog para postar sobre a seção Panelinha. Tem sempre uma curiosidade para contar, uma receita para complementar. Na edição de dezembro não teria sido diferente, mas acredita que não deu tempo de escrever?
Além de todas as atividades de fim de ano, ainda resolvi fazer uma viagem para pesquisar tendências, refrescar as ideias e ampliar o acervo de produção do Panelinha – leia-se, comprar louças, talheres e utensílios de cozinha em Nova York! Mas isso é assunto para outro post – e até outra coluna da Lola...
Pois bem, voltei, mas não aterrissei. Em uma semana, tanta coisa aconteceu... Coisas de família. Outra hora, também. Este é quase um post de promessas. Mas aos pouquinhos vou comentando.
Hoje é dia de falar dos alimentos da sorte, os ingredientes que a gente ama comer no dia 31, sonhando com um ano bem phyno e bem rhyco! Mas será que dá para variar a lentilha, sem abrir mão da prosperidade?
Dá. Tudo tem uma explicação bíblica. E longa. (Quer dizer, a minha explicação vai ser longa.) As fotos que você vê aqui (e na coluna da Lola) foram feitas no ano passado. Ou melhor, dependendo do calendário. Pelo gregoriano, elas são de 28 de setembro de 2011. Pelo hebraico, são da véspera de rosh hashaná, o ano novo judaico, que este ano caiu junto com o meu aniversário. Nossa, quanta informação! Mas o que isso tem que ver com o réveillon?
Não que eu seja uma pessoa supersticiosa, mas achei que comemorar as duas datas na mesma noite poderia ser um sinal. Na dúvida, melhor não mancar com a religião. Passei o dia preparando comidas típicas e pedi ao fotógrafo Charles Naseh que registrasse algumas delas. E não pense que o intuito tenha sido sair bem na foto com o rabino!
Eu já estava com dezembro na cabeça. E, seja no ano novo judaico ou no réveillon, sempre preparo uma salada que os frequentadores aqui do blog conhecem de cor e salteado: bazargan . Mas não pense que a escolha do prato seja uma coincidência. Trigo e romã são simbólicos nas duas passagem de ano.
Nas duas comemorações, há fortes semelhanças – vai dizer que você não come lentilha no dia 31? Pois saiba que vem da mesa judaica a origem de transformar comida em símbolo.
Confira aqui algumas das minhas receitas varotiras para o réveillon
Ano novo cheio de frutos
Talvez os principais alimentos de réveillon sejam lentilha, arroz, uva, romã, peixe e porco. E os significados, assim como os ingredientes, se misturam. Arroz simboliza riqueza mas também fertilidade. Peixe simboliza fertilidade mas também amor. Já em rosh hashaná, os alimentos são bem definidos e cada um tem uma reza própria, que é dita antes de comermos cada um deles.
A ceia começa com uma fatia de maçã sendo mergulhada no mel para que o ano seja doce. Alho-poró, acelga e tâmara vêm em seguida e têm mais ou menos o mesmo objetivo: um pedido encarecido de que os inimigos sumam da frente! O feijão, tão brasileiro, revela a vontade de que os méritos se multipliquem. Em lugar dele, muita gente serve lentilha. Sim, lentilha! No total, são 12 os alimentos simbólicos. E só depois deles é servido o jantar, com pratos que costumam ser mais para adocicados.
Para decorar a mesa, este ano peguei emprestada uma tradição sefaradi: coloquei no centro dela estas frutas, cheias sementes. Adivinhou o motivo? É para que o novo ano venha cheio de frutos. Tudo tem uma razão.
Tanto faz a religião, os alimentos simbólicos servem para expressar desejos e esperanças de forma concreta. Não é um lindo critério para escolher o que vamos comer?