#VozesNegrasImportam: Lourence Cristine Alves
Por Rita Lobo - 17 de julho de 2020
Lourence Cristine Alves ficou incomodada com a ausência da cozinha afrobrasileira na grade do curso de gastronomia. Hoje, é pesquisadora especializada nas "afrobrasilidades na nossa cultura alimentar". Siga a @lo_nacozinha para aprender mais sobre essa herança culinária.
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"Meu nome é Lourence Cristine Alves.
Sempre fui apaixonada pela cozinha. Minha trajetória nesse lugar começa com afeto de vó. Lembro-me de dona Lúcia me oferecendo alho com sal que ela pilava num pilão de madeira. Minhas memórias mais antigas têm o sabor dessa mistura.
Pensei em cursar gastronomia quando estivesse "com a vida ganha". Cursei história na Uerj e tornei-me mestra em história das ciências e da saúde pela Fiocruz – no mesmo ano em que me tornei mãe da Carolina Maria.
Professora apaixonada pelo ofício, fui percebendo que a tal 'vida ganha' talvez nunca chegasse. Decidi me arriscar e em 2015 ingressei na gastronomia da UFRJ. Não demorou para me inquietar o silenciamento da cozinha afrobrasileira no curso e, no mesmo ano, comecei minhas pesquisas sobre o tema e ingressei no doutorado. 'Onje: saberes e práticas da cozinha de santo', tese defendida em 2019 junto ao PPGANS/Uerj, foi o resultado do estudo dos saberes e sabores do candomblé.
A cozinha pra mim é um retorno ancestral. Hoje, leciono gastronomia e algumas alunas me confidenciam que, me vendo nesse lugar, mulher preta doutora e professora universitária, elas conseguem se ver também.
Como pesquisadora, tenho me dedicado aos estudos das afrobrasilidades de nossa cultura alimentar. É a essa tradição que me conecto.
A receita que trago tem um pouco desse sabor ancestral. Vidas e vozes negras importam! E abrir espaço de amplitude a nossas vozes é uma bela forma de somar na luta antirracista.
Mais uma vez, gratidão. Um cheiro e axé!"
"Trago como dica culinária um tempero que mistura sabores e aromas de matrizes africanas: uma pasta, inspirada na base do xinxim de galinha. Ela pode ser usada em bases de refogados e molhos diversos, para carnes, massas e legumes. Os ingredientes são os seguintes:
50 g de cebola
30 g de camarão seco ou cascas de camarão desidratada (*)
15 g de gengibre
30 g de castanha de caju
30 g de amendoim sem casca
20 ml de azeite de dendê
15 ml de suco de limão
Modo de preparo:
Bater todos os ingredientes no liquidificador ou mixer.
Guardar em um pote de vidro limpo na geladeira.
(*) Como em algumas regiões do Brasil pode ser difícil encontrar camarão seco, às vezes substituo pelas cascas e cabeças do camarão fresco desidratadas. Para fazer isto, basta dispor as cascas e cabeças sobre um tabuleiro, espalhar sal sobre elas e levar ao forno em temperatura bem baixa, até que fiquem secas, desidratadas. O tempo varia de forno para forno. No meu, leva em média 40 minutos. A temperatura bem baixa ajuda a controlar o processo para não queimar.
Apesar do amendoim e da castanha serem usualmente utilizados em preparações doces no Brasil, em alguns lugares, como Angola e Moçambique, eles são muito presentes em preparações salgadas, principalmente como bases de molho. No Brasil, encontramos essa herança de sabor em algumas preparações, como o xinxim de galinha e o vatapá."