Vinícola dos sonhos

Vinícola dos sonhos
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Por Rita Lobo - 01 de fevereiro de 2013


Com estes posts de férias você pode ficar com a impressão de que talvez eu tenha algum conhecimento sobre vinhos. Não tenho. Mas gosto de beber, com frequência. Quanto? Sempre que possível, quase nunca na hora do almoço — a não ser quando estou em Mendoza; aí, a história é outra.

Aliás, a história de hoje é bem diferente, dessas que a gente não ouve toda hora, especialmente narrada na primeira pessoa. Ela é mais ou menos assim: banqueiro espanhol percebe que os grandes vinhos de Rioja não entram nos leilões da Sotheby’s ou da Christie’s na época em que trabalha em Londres; passa a investir em garrafas espanholas, imaginando que, mais dia, menos dia, vão ser disputadas a tapa, até o arremate. Ele começa a se interessar pelo mundo dos vinhos cada vez mais, até que a história ganha um novo rumo.

Jose Manuel Ortega começa a planejar uma vinícola para chamar de sua; uma, não, algumas. No ano de 2000, compra terras em Mendoza. Apenas uma década depois é responsável por rótulos cheios de personalidade e, além da bodega argentina, tem vinícolas no Chile e em Ribera del Duero, na Espanha. E é uma figura. O sujeito transpira empreendedorismo. E inspira também. Saí da visita a O.Fournier motivada, cheia de ideias e com duas garrafas de vinhos superespeciais: pude fazer o meu próprio blend, a partir de quatro varietais da vinícola. E, modéstia à parte, acho que mandei bem. Mas isso só vamos saber de verdade em setembro, quando iremos abrir a garrafa do ‘Pichon O.Fournier’ — que nomeei em homenagem ao meu pai, Pichon.

Comentei, no post passado sobre a visita à Diamandes, que o propósito da minha viagem era simplesmente recarregar as baterias. Estava exausta. E o encontro com Jose Manuel foi uma carga de 220 volts. Uma experiência incrível poder ver a imaginação de uma pessoa concretizada. Literalmente. Toneladas de concreto devem ter sido usadas na construção da planta. Mas a nossa excursão ao mundo O.Fournier começou antes da ida à vinícola.

Meu marido e eu fomos jantar no restaurante da mulher de Jose Manuel, que leva o nome dela: Nadia O.F., um local curioso, num bairro afastado do centro. Como o clima permite, o salão é na verdade um pátio, a céu aberto. (Tem também uma parte interna, mas a graça é sentar-se do lado de fora, lado a lado com o forno de barro de onde saem umas galetas de azeite criminosas, daquelas que a gente não consegue parar de comer. Divinas.)

O restaurante abre apenas para o jantar, trabalha com um menu degustação de seis passos e oferece três opções de harmonização com vinhos O.Fournier. A chef troca o cardápio toda semana, de acordo com os ingredientes disponíveis no mercado, e cria composições contemporâneas, com um pouco de influência portenha, em função das carnes, e pratos cheios de toques da sua Espanha natal. Na noite em que jantei lá, além das galetas criminosas, simplesmente irresistíveis, comi uma entradinha de melancia com queijo, uma sopa creme de milho e um ragu de vitela. Tudo fresquinho, bem feito, bom serviço. E nada como estar de férias.

A segunda etapa da nossa experiência com os O.Fourniers foi dois dias depois, na vinícola, que fica a 1h30 da cidade. O restaurante de lá também é chefiado por Nadia. Um deslumbre. A arquitetura, a paisagem, a comida, os vinhos, sabe quando tudo funciona? Olha que simpático o risoto de cogumelo envolto numa fatia de pão na montagem que ilustra este post.

Em teoria, um dia numa bodega ar-rrentina, para degustar vinhos em um almoço harmonizado serve para relaxar, desligar da rotina, além de conhecer mais a fundo os vinhos específicos daquele local. Na prática, as horas ouvindo atentamente a história e o dia a dia do casal O.F. se tornaram um momento de reflexão. Aliás, mais do que isso: é curioso como algumas pessoas podem despertam na gente a capacidade de sonhar.