Um chá para Maria Rita
Por Rita Lobo - 14 de novembro de 2007
A freguesia aqui do blog acompanhou um pouco dos preparativos para reunir os Lobo ao redor de Maria Rita, minha avó, a matriarca da família. Ela tem mais de 90 anos, é mãe de dez filhos, avó de vinte e tantos netos e tem quase vinte bisnetos. Por isso, um almocinho em família é algo que não acontece espontaneamente. Com agregados, somamos mais de sessenta pessoas.
Há tempos não nos juntávamos. Somente em pequenos grupos. Minhas primas Alice, Luciana, Mônica e eu decidimos organizar uma reunião. Fizemos o RSVP e, com a lista de participantes nas mãos, dividimos as tarefas fraternalmente entre todos. A idéia era que ninguém tivesse muito trabalho nem precisasse arcar com muitas despesas.
Foram cento e cinqüenta tarteletes de frutas frescas da Luciana, a torta de ameixa e nozes da tia Lucila, uma travessa gigante de brownies de chocolate da tia Regina, o meu bolo de limão, uns 60 sanduichinhos variados da Camila e da tia Ercília, a quiche da Patrícia, salgadinhos de queijo e papoula da tia Gilda, uma centena de brigadeiros que deveriam ter sido feitos pela Alice, a prima que não sabe cozinhar, mas nem isso ela fez. Pediu para a nossa tia Cláudia, madrinha dela, comprar os docinhos prontos. Não pense, porém, que isso é picuinha minha. É apenas uma maneira de revelar, por linhas tortas, o apreço que tenho pela prima caçula, que nem mais caçula é. (Mas continua sendo a mais divertida e bem-humorada da família.) Só um detalhe, adivinhe a data que ela escolheu para se casar? No dia do meu aniversário, claro. Isso já faz alguns anos. Mas eu não esqueço.
Ainda para as crianças (o brigadeiro foi incluso por causa delas, que fique claro), outra centena de pães de queijo trazidos pela minha mãe e pela Gisela, 50 sachês de café expresso para os adultos, 4 litros de leite para o café, suco de uva da Fernanda, refrigerantes trazido pelo Bartô (um dia preciso mostrar aqui o trabalho do meu primo, ele é artista plástico dos bons) 3 sacos de gelo, uma caixa de vinho tinto e apenas uma caixinha de chá, que deu nome à reunião familiar: o chá da vovó Rita. Ah, o chá foi a Alice quem trouxe. E trouxe de Londres. A gente continua com essa mania de trazer chá da Inglaterra, mesmo sabendo que pode comprar no supermercado da esquina.
De Londres, também, veio um e-mail que pegou de jeito as primas que faziam parte do “comitê organizador”. Era a nossa tia, estava chateada por não poder participar. Marcelo, irmão do meu pai, na qualidade de Lobo mais velho, imediatamente respondeu em nome das netas da Maria Rita e sugeriu um repeteco em janeiro, quando a nossa tia estará no Brasil. Até aí, tudo bem. Assunto encerrado, apesar do aperto no coração. (A tia Beth é disputadíssima entre as primas, todas competimos para ver quem é a sobrinha favorita.)
Acontece que a Mônica, minha prima, acabou de voltar de uma longa temporada morando na capital inglesa. Acho que ficou por lá uns 5 anos. E, talvez por isso, ela tenha sentido na pele a tristeza da nossa tia. Sentiu tanto, tanto, que não conseguiu ir ao encontro. E se não fosse assim, não seria uma reunião familiar. Apesar do sangue em comum, cada um sente, pensa e reage de um jeito. E é bom poder se expressar, mesmo que seja não falando nada.
Além da comida, alugamos uma centena de cada um dos seguintes itens: prato de sobremesa, garfinho, colher e xícara de chá pequenina (usada também para café e capuccino), taça de vinho tinto (usada para todas as bebidas) 3 jarras para água e sucos, uma tina para gelar tudo rapidinho. Compramos copinhos descartáveis para as crianças e esquecemos de embalagens de alumínio para quem quisesse levar para casa um pouquinho do sabor do encontro.
Contamos com uma mãozinha das auxiliares da vovó e da minha cozinheira, mas não deixamos de contratar duas supercopeiras que, em minutos, esterilizaram todo o material locado com álcool, arrumaram o salão, colocaram os salgadinhos para esquentar e serviram os 54 parentes da minha avó, que nem acreditava que tantos de seus descendentes fossem mesmo dar um pulo na casa dela para tomar um cafezinho. Quer dizer, acho que ela não estava acreditando: não se lembrou de assar o tão aguardado bolo de fubá da dona Maria Rita. Fica para a próxima.