Um café para lobos

Um café para lobos
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Por Rita Lobo - 18 de outubro de 2007


Era o ano de 1994 quando meu avô Lobo morreu. Ele tinha 94 anos, eu 20 e minha avó, também Rita, quase 80. Desde então, nunca mais a família toda se reuniu. Antes que você pense que somos uma família de lobos maus, explico: meus avós tiveram dez filhos, que deram a eles mais de 20 netos, que, por enquanto, são pais de 18 bisnetos. A família é grande. Nem todos moram no Brasil. Alguns moram no interior. Entre bisnetos, netos, filhos e agregados, que insistimos em dizer que fazem parte da família (meu avô falava isso para brincar com as noras e genros), somos mais de 60 pessoas. Por isso, as reuniões de família na última década foram feitas em etapas. Nunca estão todos presentes. Já imaginou se todo mundo decide almoçar na casa da Vovó Rita no mesmo dia?

Desde que me lembro por gente, basta entrar na casa dela que surge uma bandeja de café passado na hora, xícaras escaldadas, pelando de quentes, e sequilhos que se desmancham na boca. No último feriado, já com a xícara de café nas mãos, fiquei olhando para a minha avó e pensando que, fazer um almoço para a família toda é mesmo difícil. Mas e um chá da tarde? Sem frescura, organizado pelas netas, cada uma responsável por trazer um bolo ou uma torta doce. As menos jeitosas na cozinha poderiam convidar os familiares e o sequilho continuaria por conta da vovó. Estávamos apenas nós duas na sala, Maria Rita e eu. Perguntei se ela gostava da idéia. Ela ficou animada. Eu também.

Posso ouvir o meu avô dizendo: o ótimo é inimigo do bom. Muitas vezes, acho que é o contrário. Mas neste momento, concordo com ele. A vovó Rita não sabe, mas no fundo estou tentando superar o fato de que nunca mais teremos uma festa de Natal, como eram as festas na minha infância. Então, um chá da tarde com a família toda reunida vai ser muito bom. Vai ser ótimo!

Liguei para minha prima Luciana, que também gostou, mas sugeriu uma idéia ainda melhor: um brunch. Mônica, outra prima, também vai fazer parte do comitê organizador. Afinal, organizar um brunch para 60 pessoas requer um comitê! Alice ainda não sabe, mas vai ficar responsável por enviar e-mails para todos e fazer o RSVP. (Ela não cozinha. Talvez seja a única na família.)

Estou pensando em misturar alguns pratos da Maria Rita, que vão muito bem para um brunch, com receitas das netas. O tender, que ela me ensinou a fazer, precisa ser com osso. É um clássico na família e pode ser assado no dia anterior; na hora, fatiado fininho, fica delicioso servido frio. Vamos comprar pães, pedir para a tia Lucila fazer geléia com amoras da fazenda (ou era em Campos que tinha amoras?), que dá um sabor adocicado para um sanduíche de tender. Vamos alugar máquinas de café expresso, eu vou fazer bolo de limão, a Lu, certamente, vai trazer alguma daquelas maravilhas que ela faz com chocolate. Vamos dividir todas as tarefas, assim, ninguém precisa trabalhar muito.

Vó Rita, agora com 93 anos, está feito criança: “Mas e se não vier ninguém?” Claro que vem, vó! Neste momento estamos procurando a data ideal. Vai ser num sábado, depois de um dos feriados. Assim, quem quiser pode pegar a estrada depois de tomar um cafezinho com a vovó. Ela quer saber o que precisa fazer. Digo que a parte dela resume-se a ficar bem linda para a foto. Ah, claro, vai ter foto da alcatéia. E das receitas também!