Um brinde com duas garrafas de Taittinger
Por Rita Lobo - 31 de dezembro de 2013
Último post do ano. Como eu também já estou no modo férias, o assunto não é comida. Estou aproveitando a praia com meus filhos, marido e enteadas — aqui, na ordem em que os conheci. (Quando o Gabriel nasceu, fui tão boba, fiquei com vergonha de sentir toda aquela emoção com ele nos braços e travei o choro na garganta. Que tonta. A meu favor posso dizer que, depois disso, aprendi a me expressar mais livremente em relação aos meus filhos. Liguei a torneirinha: eu choro no parabéns a você, na competição de judô e as apresentações de balé da Dora têm sido um caso a parte.) Muito antes de conhecer os meus filhos, meu marido e as minhas enteadas, porém, ouvi Rod.
Eu tinha uns sete ou oito anos e meu primo Felipe, bem, ele tinha o LP Rod Stewart Greatest Hits, esse aí da foto, com o sujeito de terno de cetim rosa-choque na capa. De uma forma meio torta, virei fã de cara: roupa pink e cabelo loiro não é tudo o que uma menina de sete anos gosta? Não lembro, porém, a primeira vez em que ouvi Maggie May. Deve ter sido no mesmo dia.
Os anos foram se passando, virei adolescente, e fui ficando apegada àquelas canções — I don't want to talk about it, The first cut is the deepest... E comecei a achar aquele corte de cabelo incrível. Com uma capa de disco na mão fui ao cabeleireiro e disse: “pode cortar”. Talvez pela alteração hormonal da idade, de liso e loiro, da noite para o dia, meu cabelo virou cinza e encaracolado. Assim começou a minha longa briga com os meus, então, indesejados cachos. Durante uns 20 anos usei cortes lisos inspirados no colega.
Fã não julga
Ainda na década de 1980, além iniciar a luta contra os cachos, também fiquei meio brigada com Rod. Como foi difícil me manter fiel a ele naquela época! Se as mangas do blazer dele rolaram para cima, o repertório despencou morro abaixo. Mesmo assim, continuei ouvindo. E, involuntariamente, decorando as músicas — é um problema que tenho, presto atenção na letra e acabo memorizando não apenas o refrão. Aliás, olha que coisa curiosa: Maggie May nem refrão tem. É uma historinha cantada — e eu adoro essas composições em forma de narrativa. Você já ouviu The killing of Georgie? A música é tão linda e a letra, quase uma crônica, tão atual.
Comprei LPs, depois, CDs e, mais recentemente, baixo os singles pelo iTunes — sim, eu sou desse tipo que ainda compra música. Na adolescência, gravava fitas e, grudada no meu walkman amarelo, rodava o mundo com Rod. Andamos por Tóquio, Paris, Zurique, Nova York. Durante esse período eu ficava bastante tempo sozinha, e a música era uma boa companhia. Fleetwood Mac, Jorge Ben, e, quando batia saudade de casa, Joaquín Rodrigo. Já chorei de encher um lago com Fantasia para un gentil hombre, música que era um hit na casa dos meus pais. Acho que eu gosto de alimentar a saudade.
Os equipamentos evoluíram, as mídias também, mas Rod continua sendo um prazer solitário. Meu marido não aguenta, meus filhos já começam a reclamar. E meus pais outro dia me perguntaram se eu ainda gosto daquela tia velha inglesa. Quanto descaso, minha gente! Não tem problema: ouço sozinha no carro ou quando vou ao supermercado, com fone, ou para caminhar. Ou quando todos os meus amigos já estão bêbados no fim de algum jantar em casa e coloco o DVD no videokê. (Videokê é sensacional até de escrever. Constrangimento garantido ou o seu dinheiro de volta.) Antonio Prata, por exemplo, já cantou Down Town Train, linda música de Tom Waits, regravada pelo meu herói. E sabe que o Antonio canta direitinho?
Ah, sim. Rod é também música boa para karaokê. Hot legs, Sailing, Da ya think I'm sexy?, You're in my heart... Foi numa dessas sessões de cantoria que passei o vício para uma amiga, a Livia Miglioli.
Amigo secreto de duas
Livia, para quem acompanha o blog desde sempre, não é um nome desconhecido. Ela produziu todos os vídeos do Panelinha e, durante as gravações, fazia comentários tão divertidos que não conseguíamos cortar na edição. Sempre que estamos em fase de produção, o nome dela fica pipocando por aqui.
Depois de uns tempos trabalhando juntas, nos tornamos amigas próximas, apesar da distância entre as nossas fases de vida — ela é bem mais velha do que eu (mentira, Livia ainda usa fraldas). Agora no fim do ano, ela sugeriu um amigo secreto. Mas em se tratando da Livia, tinha que ser algo diferente: só ela e eu iríamos participar e o presente seria o livro Rod, a autobiografia. Topei, óbvio.
Não vou sugerir que você leia. Longe disso, que fique claro. A leitura não faz o menor sentido, a não ser que você seja tão fã quanto eu. Mas também não vou mentir: me diverti horrores. O cara é um palhaço, no bom e no mau sentido.
Devaneios
Com tempo livre, férias, milho grelhando na churrasqueira, vinho branco no almoço e no jantar, fiquei refletindo sobre essa coisa de ser fã, de adorar, independentemente até de gostar, muitas vezes. Por exemplo: as músicas de que gosto, como You wear it well, Reason to believe, Mandolin Wind e tantas outras, ouço por prazer. Já as canções de que não gosto, como Lost in you, Young turks ou Some guys have all the luck, também ouço, só que para me divertir. Rolo de rir com as cafonices de Rod. É uma coisa meio esquisita ser fã, uma espécie de amor romântico, que não existe na vida real — ninguém gosta dos defeitos do outro no dia a dia.
Mas e aí, vai ter ou não vai ter moral da história? Não, não vai. Depois de ler a autobiografia do sujeito, fiquei me perguntando o que será que me encanta na figura dele há tanto tempo. Gosto da voz, é verdade, sou apegada às músicas, acho o cabelo divertido, apesar de o visual ser incrivelmente brega. Mas ele é autentico. E acho que sempre gostei disso. Certamente ele não tem vergonha de se expressar — duvido que alguma vez tenha travado o choro na garganta.
Você nem precisa ler a autobiografia para sacar que o cara é machista de dar arrepios. Aquele tipo de homem que nunca amadurece, tudo errado. Mesmo assim, acho ele engraçado. É como se ele tivesse na manga o ingrediente certo para alimentar a fantasia de que a vida pode ser uma festa — algo tão distante da realidade. Forever Young. E, também, numa época em que tudo é tão rápido, descartável, há também um prazer em gostar do mesmo artista há mais de três décadas. Para mim, quero dizer, pois para o meu marido é um desespero. Ele continua tentando me convencer de que Rod Stewart é o Fabio Junior inglês. (E sabe que até passei a ter mais simpatia pelo Fabio Junior?)
Rabisquei este post e comecei a procurar uma imagem minha com corte de cabelo à la Rod. Desisti de publicar o post, mas mandei a montagem para a Livia, sabia que ela iria se divertir. A resposta dela: “Mana, o dia que vc postar, chego na sua casa com uma Taittinger, ou melhor, duas!” Então, pego emprestado os votos de outra amiga, Chris Campos: que o ano novo seja recheado de grandes e pequenas alegrias.
Eu tinha uns sete ou oito anos e meu primo Felipe, bem, ele tinha o LP Rod Stewart Greatest Hits, esse aí da foto, com o sujeito de terno de cetim rosa-choque na capa. De uma forma meio torta, virei fã de cara: roupa pink e cabelo loiro não é tudo o que uma menina de sete anos gosta? Não lembro, porém, a primeira vez em que ouvi Maggie May. Deve ter sido no mesmo dia.
Os anos foram se passando, virei adolescente, e fui ficando apegada àquelas canções — I don't want to talk about it, The first cut is the deepest... E comecei a achar aquele corte de cabelo incrível. Com uma capa de disco na mão fui ao cabeleireiro e disse: “pode cortar”. Talvez pela alteração hormonal da idade, de liso e loiro, da noite para o dia, meu cabelo virou cinza e encaracolado. Assim começou a minha longa briga com os meus, então, indesejados cachos. Durante uns 20 anos usei cortes lisos inspirados no colega.
Fã não julga
Ainda na década de 1980, além iniciar a luta contra os cachos, também fiquei meio brigada com Rod. Como foi difícil me manter fiel a ele naquela época! Se as mangas do blazer dele rolaram para cima, o repertório despencou morro abaixo. Mesmo assim, continuei ouvindo. E, involuntariamente, decorando as músicas — é um problema que tenho, presto atenção na letra e acabo memorizando não apenas o refrão. Aliás, olha que coisa curiosa: Maggie May nem refrão tem. É uma historinha cantada — e eu adoro essas composições em forma de narrativa. Você já ouviu The killing of Georgie? A música é tão linda e a letra, quase uma crônica, tão atual.
Comprei LPs, depois, CDs e, mais recentemente, baixo os singles pelo iTunes — sim, eu sou desse tipo que ainda compra música. Na adolescência, gravava fitas e, grudada no meu walkman amarelo, rodava o mundo com Rod. Andamos por Tóquio, Paris, Zurique, Nova York. Durante esse período eu ficava bastante tempo sozinha, e a música era uma boa companhia. Fleetwood Mac, Jorge Ben, e, quando batia saudade de casa, Joaquín Rodrigo. Já chorei de encher um lago com Fantasia para un gentil hombre, música que era um hit na casa dos meus pais. Acho que eu gosto de alimentar a saudade.
Os equipamentos evoluíram, as mídias também, mas Rod continua sendo um prazer solitário. Meu marido não aguenta, meus filhos já começam a reclamar. E meus pais outro dia me perguntaram se eu ainda gosto daquela tia velha inglesa. Quanto descaso, minha gente! Não tem problema: ouço sozinha no carro ou quando vou ao supermercado, com fone, ou para caminhar. Ou quando todos os meus amigos já estão bêbados no fim de algum jantar em casa e coloco o DVD no videokê. (Videokê é sensacional até de escrever. Constrangimento garantido ou o seu dinheiro de volta.) Antonio Prata, por exemplo, já cantou Down Town Train, linda música de Tom Waits, regravada pelo meu herói. E sabe que o Antonio canta direitinho?
Ah, sim. Rod é também música boa para karaokê. Hot legs, Sailing, Da ya think I'm sexy?, You're in my heart... Foi numa dessas sessões de cantoria que passei o vício para uma amiga, a Livia Miglioli.
Amigo secreto de duas
Livia, para quem acompanha o blog desde sempre, não é um nome desconhecido. Ela produziu todos os vídeos do Panelinha e, durante as gravações, fazia comentários tão divertidos que não conseguíamos cortar na edição. Sempre que estamos em fase de produção, o nome dela fica pipocando por aqui.
Depois de uns tempos trabalhando juntas, nos tornamos amigas próximas, apesar da distância entre as nossas fases de vida — ela é bem mais velha do que eu (mentira, Livia ainda usa fraldas). Agora no fim do ano, ela sugeriu um amigo secreto. Mas em se tratando da Livia, tinha que ser algo diferente: só ela e eu iríamos participar e o presente seria o livro Rod, a autobiografia. Topei, óbvio.
Não vou sugerir que você leia. Longe disso, que fique claro. A leitura não faz o menor sentido, a não ser que você seja tão fã quanto eu. Mas também não vou mentir: me diverti horrores. O cara é um palhaço, no bom e no mau sentido.
Devaneios
Com tempo livre, férias, milho grelhando na churrasqueira, vinho branco no almoço e no jantar, fiquei refletindo sobre essa coisa de ser fã, de adorar, independentemente até de gostar, muitas vezes. Por exemplo: as músicas de que gosto, como You wear it well, Reason to believe, Mandolin Wind e tantas outras, ouço por prazer. Já as canções de que não gosto, como Lost in you, Young turks ou Some guys have all the luck, também ouço, só que para me divertir. Rolo de rir com as cafonices de Rod. É uma coisa meio esquisita ser fã, uma espécie de amor romântico, que não existe na vida real — ninguém gosta dos defeitos do outro no dia a dia.
Mas e aí, vai ter ou não vai ter moral da história? Não, não vai. Depois de ler a autobiografia do sujeito, fiquei me perguntando o que será que me encanta na figura dele há tanto tempo. Gosto da voz, é verdade, sou apegada às músicas, acho o cabelo divertido, apesar de o visual ser incrivelmente brega. Mas ele é autentico. E acho que sempre gostei disso. Certamente ele não tem vergonha de se expressar — duvido que alguma vez tenha travado o choro na garganta.
Você nem precisa ler a autobiografia para sacar que o cara é machista de dar arrepios. Aquele tipo de homem que nunca amadurece, tudo errado. Mesmo assim, acho ele engraçado. É como se ele tivesse na manga o ingrediente certo para alimentar a fantasia de que a vida pode ser uma festa — algo tão distante da realidade. Forever Young. E, também, numa época em que tudo é tão rápido, descartável, há também um prazer em gostar do mesmo artista há mais de três décadas. Para mim, quero dizer, pois para o meu marido é um desespero. Ele continua tentando me convencer de que Rod Stewart é o Fabio Junior inglês. (E sabe que até passei a ter mais simpatia pelo Fabio Junior?)
Rabisquei este post e comecei a procurar uma imagem minha com corte de cabelo à la Rod. Desisti de publicar o post, mas mandei a montagem para a Livia, sabia que ela iria se divertir. A resposta dela: “Mana, o dia que vc postar, chego na sua casa com uma Taittinger, ou melhor, duas!” Então, pego emprestado os votos de outra amiga, Chris Campos: que o ano novo seja recheado de grandes e pequenas alegrias.