Um bolo para duas festas
Por Rita Lobo - 26 de setembro de 2011
Este ano, ganhei de presente comemorar o meu aniversário junto com o ano novo judaico. O meu nascimento não muda de data – isto é, nunca se sabe, talvez uma hora eu queira dar uma mexidinha no ano. Por ora, só Rosh Hashaná é que muda de dia a cada ano. Como a celebração acontece de acordo com o calendário judaico, varia no gregoriano.
No judaísmo, o ano novo é comemorado a partir da criação. Assim, o homem vai completar 5772, e eu, 30 e muitos. E, nas comemorações judaicas, em todas elas, a mesa é fundamental. (Menos em Yom Kippur, o Dia do Perdão, que ocorre uma vez por ano, dez dias após o ano novo. Se bem que, nas 25 horas sem comer, fica difícil não pensar em comida. Voltamos à mesa.)
No ano novo, os pratos têm sempre uma razão para estar ali. Mais ou menos como no réveillon, quando come-se lentilha para atrair fortuna. Em Rosh Hashaná, a lógica é a mesma: os alimentos simbólicos servem para expressar desejos e esperanças de maneira concreta. Em outras datas, como em Pessach, ou a Páscoa judaica, os alimentos servem para relembrar o passado.
Com 3761 anos a mais de experiência em comemorações de ano novo (pelo gregoriano são só 2011), dá para imaginar que os judeus tiveram bastante tempo para desenvolver tradições. Tudo faz parte, tudo é ritual. Lavar as mãos, mesmo que elas já estejam limpas, simboliza a purificação. Por isso, tem benção. Depois é feita a benção do vinho, toma-se um gole, e vem a benção do pão. Mas o pão de ano novo não é o pão nosso de cada dia. Ele tem um formato redondo, que representa a continuidade, como num círculo sem começo nem fim. Mas para que o ano seja bem doce, antes de comer o pão, ele é mergulhado no mel. Na sequência, come-se maçã, romã, vagem, abóbora, alho-poró, acelga, tâmara e língua. E, aí, sim, é servido o jantar.
As comidas de Rosh Hashaná são mais adocicadas. É uma tradição judaica desejar um ano mais doce. Maçã e mel, tenho a impressão, são os dois alimentos que melhor representam a data. E os dois são a base do clássico dos clássicos da comemoração: o bolo de mel (que leva maçã ralada).
Eu já testei algumas versões. Nenhuma tão boa quanto a receita da minha cunhada. Como este ano o bolo de ano novo também vai ser de aniversário, ela me deu a receita! O resultado é um bolo grande, bem fofinho, escuro, com várias camadas de sabor. E doce como mel. Exatamente como queremos que seja o ano novo.
Bolo de mel e maçã para Rosh Hashaná
Ingredientes
3 ½ xícaras (chá) de farinha de trigo
2 colheres (sopa) chocolate em pó
1 colher (sopa) de cacau em pó
1 colher (chá) de canela em pó
1 colher (sopa) de fermento
2 maçãs verdes
10 damascos
1 xícara (chá) de nozes
6 ovos
2 xícaras (chá) de açúcar
1 xícara (chá) de mel
1 xícara (chá) de óleo
1 xícara (chá) de chá preto forte
geleia de damasco (opcional)
Modo de preparo
1. Preaqueça o forno a 180 ºC (temperatura média). Unte com óleo ou manteiga e polvilhe com farinha de trigo uma fôrma grande, redonda ou retangular. Tanto faz.
2. Passe pela peneira a farinha de trigo, o chocolate em pó, o cacau em pó, a canela em pó e o fermento em pó. Misture delicadamente e reserve.
3. Prepare as frutas: corte as maçãs em quatro partes e, usando a casca para proteger os dedos, rale na parte grossa do ralador (e descarte a casca); pique os damascos. Pique grosso as nozes. Reserve.
4. Na batedeira, bata os ovos até começar a espumar. Junte o açúcar e bata até a mistura ficar bem pálida.
5. Junte o mel e o óleo e bata apenas para misturar.
6. Reduza a velocidade da batedeira e junte os ingredientes secos e peneirados, alternando com o chá preto.
7. Pare de bater e misture as frutas. Transfira a massa para a fôrma preparada e leve para assar por cerca de 45 minutos ou até que esteja assado. Espete um palito no centro da massa; se sair limpo, está pronto.
8. Deixe o bolo esfriar por 10 minutos, antes de virar. Se quiser, espalhe um pouco de geleia em cima do bolo ainda morno. Sirva a seguir.