Tomando todos

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Por Rita Lobo - 28 de maio de 2008


Suco de uva faz bem e não dá ressaca

Há exatamente uma semana, fui a três supermercados e comprei todos os sucos de uva que encontrei pela frente. Na trilha dos vinhos, o suco de uva tinto também entrou na lista de alimentos, ou melhor, de bebidas gostosas para tomar sem culpa. Virou moda, já reparou?

Decidi fazer uma degustação para descobrir quais os mais gostosos, claro, mas também para verificar quais são realmente saudáveis. Por isso, convidei a nutricionista Marina Prieto para fazer parte do júri, composto por ela e mais três pessoas aqui do Panelinha: a Nina, a Paula e a Ana.

Antes de mergulharmos nos sucos, explico que o critério para a escolha das marcas era apenas um: estar disponível na prateleira, naquele dia. Somente por isso, marcas como Aecia ou Concord orgânicos, por exemplo, não fizeram parte da nossa degustação.

Muito além do sabor

A nutricionista explica que, os compostos fenólicos, encontrados no vinho e também no suco de uva tinto, previnem a formação de radicais livres. As catequinas, encontradas nas sementes de uva, reduzem a incidência de alguns tipos de câncer, o colesterol e estimulam o sistema imunológico. As antocianinas, encontradas na casca da uva e na polpa, também possuem propriedades anticarcinogênicas e são antiinflamatórias e antialérgicas. O resveratrol, encontrado nas uvas, pode ajudar a diminuir os níveis de colesterol LDL (o mau colesterol) e aumentar os níveis de colesterol HDL (bom colesterol).

Marina conta que, segundo uma pesquisa recente, o vinho e o suco de uva tinto provocam o mesmo efeito sobre o endotélio (camada que forra internamente os vasos sanguíneos), aumentando a sua dilatação. “É nessa camada que se depositam as placas de gordura, que comprometem a circulação e podem provocar o infarto do miocárdio. Quando há vasodilatação, a circulação melhora, e a chance de infarto diminui”, conclui a nutricionista.

Às cegas, mas sem vista grossa

Marina e eu decidimos ler os rótulos antes da degustação. Todos os sucos em embalagem de vidro passaram pelo crivo da nutricionista. As palavras mágicas são: integral, natural, sem açúcar, sem conservantes. Se for orgânico, melhor ainda. Já entre os sucos de caixinha, apenas dois foram aprovados: Tial e Ceres, sendo que o primeiro não tem conservantes, mas é adoçado, e o segundo, melhor, não tem nem conservantes nem açúcar. Mesmo assim, decidimos manter na degustação todos os sucos, incluindo as outras marcas de caixinha: Del Valle, Fazenda Bela Vista, Fruthos, Kapo, Maguary, Minute Maid Mais, Pão de Açúcar, Parmalat e Su Fresh. Marina frisa, porém, que estes sucos de caixinha não são ideais para consumo diário.

A verdade nua, concentrada e acidulada

Quando você vir a palavra acidulante na rótulo, saiba que, mesmo que na embalagem esteja escrito “suco de uva”, o conteúdo no interior dela não tem as propriedades de um suco de uva natural. Não é equivalente e, muito provavelmente, faz mal para os dentes (entre outras coisas). O tanto de açúcar colocado nesses sucos chega a dar aversão a um paladar um pouquinho mais educado. Na degustação às cegas, todos os adultos fizeram careta com o gosto artificial dos sucos de caixinha. Mas, para a minha tristeza, as crianças não pareceram se incomodar com um suco mais doce que doce de batata doce. Muito pelo contrário. Elas achavam todos “uma delícia!”. Até que decidi fazer um teste.

Num copinho, coloquei um pouco do suco Del Valle e dei para o meu filho, que se recusou a fazer a degustação às cegas. Por isso, mostrei bem a embalagem. Ele adorou. Depois, mostrei a ele a embalagem do suco Kapo (segundo o site da Coca-Cola, é “líder no segmento infantil de bebidas de frutas prontas”), mas dei um pouco de Casa de Bento, um suco bem natural da Vinícola Aurora. “É muito bom”, disse ele, sem saber o que estava tomando. Na seqüência, eu disse que tinha feito uma confusão e que o verdadeiro suco Kapo estava em outro copinho. Ele tomou novamente, seguido do suco natural, e achou horrível. De fato, parece ser o mais doce de todos os sucos.

Imaginei o quanto de açúcar é colocado nestas bebidas infantis e fiquei com um gosto amargo na boca. Entre as crianças, a embalagem fala mais alto que o sabor. É difícil proporcionar aos nossos filhos uma alimentação saudável e natural. Ou você tem coragem de mandar ovo cozido na lancheira?

É por isso mesmo que, em casa, não deveríamos abrir exceções. Nada de refrigerantes ou de sucos artificiais. Afinal, na escola, nas festinhas e, minha mãe que não me ouça, na casa dos avós, não dá para controlar.

Só os adultos

Excluídos os sucos artificiais, fizemos novamente a degustação, comparando somente os sucos aprovados pelo paladar dos adultos: Casa de Bento, Casa de Madeira, Ceres, Rossoni (da embalagem de vidro), Salton, Superbom e Tial.

Ceres, apesar de saudável, é um suco mais ralo (ele é feito com uva moscatel, que é naturalmente mais doce e mais clara que as outras) e, na degustação às cegas, foi descartado. Isto é, pelos adultos. A minha filha Dora, de 3 anos, achou o suco “muito bom, mamãe.” Tial, apesar de não ter conservantes, tem açúcar e é muito doce. Também foi excluído. Rossoni, comparado aos sucos restantes, também não ganhou pontos suficientes para continuar na competição. Era muito doce, mas, ao mesmo tempo, bastante ácido.

Os finalistas: Casa de Bento, Casa de Madeira, Salton e Superbom, sendo que, este último, é concentrado e precisa ser diluído em duas partes de água, conforme instruções da embalagem. No teste comparativo, ficou mais ralo que os outros, sem peso na boca. Pronto, Casa de Bento, Casa de Madeira e Salton foram os vencedores. São encorpados, têm doçura e acidez na medida certa, e dá para sentir o gosto natural da fruta. Opa! Está ficando um pouco chato, parecendo degustação de vinho (e essa não é a nossa intenção). Somados os votos, o vencedor foi Casa de Bento. Mas calma.

No bolso

O meu lado gourmet não se incomoda em pagar R$ 13 por um litro de suco de uva. Mas a dona de casa que mora dentro de mim se recusa a gastar continuamente este valor. Fazendo as contas, cada 200ml de Casa de Bento sai por R$ 2,60. Já o Casa de Madeira sai por R$ 3. Superbom, diluído conforme as instruções da embalagem, custa R$ 0,86! Superbom mesmo! Não tem açúcar nem conservantes e é R$ 0,13 mais barato que o Kapo!

Crianças

Marina Prieto, a nutricionista convidada, explica que as mães devem dar preferência aos sucos naturais, da fruta para o copo. Depois, para os de polpa (congelada) ou integrais (de garrafa de vidro). Por último, aos de caixinha. Estes devem ser evitados no dia-a-dia.

Na cozinha

Para variar, experimente bater o suco de uva com chá de erva-cidreira. Com água de coco também fica um delícia. Com melão, o suco dá uma encorpada. Para a equipe do Panelinha, todos os sucos finalistas se beneficiaram de umas pedrinhas de gelo. E eu é que não vou discordar de um júri tão qualificado!