Todo mundo usa

Todo mundo usa
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Por Rita Lobo - 24 de novembro de 2008


Minha filha ficou com dor de garganta e, por isso, fiquei, de dia, trabalhando em casa. À noite, ela pediu para dormir na minha cama. Eu sei, é errado, isso não se faz, mas A-DO-RO quando meus filhos pedem para dormir na minha cama. Claro que só deixo de vez em quando. E com dor de garganta é de vez em sempre. Não precisa nem pedir. Bom, para encurtar a história, à tarde, eu estava no computador, Gabriel lendo um livro de dinossauros e Dora assistindo à televisão, bem baixinho. Cada um concentrado na sua atividade. Num intervalo comercial, ela ouviu o slogan: “Havaianas, todo mundo usa”. Imediatamente se levantou, veio andando em minha direção e disse, abanando o dedo indicador: “Mamãe, eu não uso”.

Gabriel, sem tirar os olhos do livro, comentou: “Eu também não uso, meu avô não usa, minha avó não usa, meu pai não usa...” Dora olhou bem sério para mim e disse: “Mamãe, acho melhor você ligar para o moço da televisão e avisar que não é todo mundo que usa”.

Por coincidência, achei essa ilustração antiga feita pelo Filipe Jardim, uma opção de imagem para alguma página do meu primeiro livro, Cozinha de estar. Acabamos não usando. Mas fica claro que uso Havaianas e tomo café. O que interessa aqui, porém, é o “todo mundo”. Claro que a mensagem é que todo o tipo de gente usa, e não que todas as pessoas do mundo usam. Mas não quis estender a conversa com os meus filhos. Achei ótima a argumentação deles, o fato de eles não aceitarem como certo qualquer coisa que vejam na televisão.

Fiquei pensando sobre o conceito “todo mundo” na culinária. Todo mundo gosta de chocolate. Não é verdade. Muita gente gosta, mas não é todo mundo. Todo mundo gosta de arroz. Eu gosto, mas não faço questão, acredita? Todo mundo gosta de quê? Não consigo pensar em nada. Tenho um palpite, porém. Batata. Não conheço alguém que não goste de batata. Acho que é daí que vem a expressão “é batata”. E é um ingrediente popular, que “todo mundo” pode comprar. E cozinhar.

Gabriel não gosta de purê de batata, mas gosta de batata frita. Eu não gosto de batata cozida a vapor, mas gosto de todos os outros tipos. Especialmente as queimadas. Batata assada até queimar as pontas, temperada com alecrim, sal grosso. Ou aquela batata libanesa feita pela Leila, do restaurante Arábia. É uma espécie de purê rústico, que, em vez de leite e manteiga, leva azeite e, por cima, cebola frita com salsinha. Um sonho. Purê de batata bem feitinho, temperado com noz-moscada, também é comida de desejo. E, por incrível que pareça, é rara. Vira e mexe as pessoas inventam de colocar queijo, requeijão, temperos estranhos. Aí não dá. Batata salteada com curry também é uma delícia. Salada de batata com mostarda também. Aqui no Panelinha tem um monte de receitas gostosas (no canal receitas, digite batata para ver as opções).

Bom, se você chegou até aqui, leu o post todinho, bem que poderia me mandar um e-mail dizendo se você conhece alguém que não gosta de batata. Até lá, continuo achando que é o ingrediente que todo mundo gosta. Todo mundo usa.