Sonho de sobremesa
Por Rita Lobo - 29 de julho de 2008
Eu vi uma tartaruga prateada determinada a morder os pés dos desavisados que, deslumbrados com tanta beleza, nem imaginavam a força daquele ser unicolor. “Levante os pés!”, gritava a minha amiga à medida que o bicho cor de prata ia passando pela nossa mesa. Eu já vi um rabino voar em minha direção, com braços abertos e tudo, como se fosse um superman kasher, só para estender a mão depois de eu ter levado um tombo violento. Eu senti formigas devorarem o meu corpo, comendo pele, carne e se deliciando com o meu desespero. Mas eu também já vi Londres de cima, e voei de uma loja para outra, window shopping, flutuando com as minhas sacolas caras num dia quente de inverno.
Há tempos não sonhava com comida. Nas épocas do meu restaurante, até prato cheguei a elaborar dormindo. Não era nada de extraordinário, apenas uma combinação esquisita: frango marinado em shoyu, canela e gengibre servido com pasta de grão-de-bico, homus e, por cima de tudo, shimeji e shiitake assados com saquê e abacaxi. Deu certo, inclusive na vida real. Entrou para o cardápio.
De repente os sabores gostosos saíram de cena. Vi em um restaurante fino uma compota de kiwis inteiros, peludos, servida com ouriço para a sobremesa. Diante da minha cara, o garçom, em tom cínico e sorriso torto no canto da boca, sugeriu trocar a compota peluda por uma versão salgada de compota de tomate. Não era um pesadelo, mas não dá para dizer que era uma sobremesa de sonho. Acho que era para falar da falta de opção da época.
Hoje fui eu que acordei com um esboço de sorriso estampado no rosto. Despertei de um almoço entre amigas, amigas queridas de verdade, que me acompanhavam num lady’s lunch, regado a vinho espumante e com um bufê de doces para a sobremesa. Nada daquela empáfia peluda do restaurante luxuoso na aparência. Era um manjar que brilhava nos meus olhos. Literalmente: um facho de luz de fim de tarde cortava janela adentro e iluminava aquele pudim branco que flutuava no prato de tão leve. Era simples, cremoso, com lascas de coco fresco e crocante. A consistência era macia. Tinha calda, mas não era de ameixas. Tirinhas de casca de laranja, transparentes de tão finas, faziam parte da compota temperada com água de flor de laranjeira. Era tudo tão saboroso, leve, claro. Um sonho de sobremesa, antes mesmo do café da manhã para despertar.
Há tempos não sonhava com comida. Nas épocas do meu restaurante, até prato cheguei a elaborar dormindo. Não era nada de extraordinário, apenas uma combinação esquisita: frango marinado em shoyu, canela e gengibre servido com pasta de grão-de-bico, homus e, por cima de tudo, shimeji e shiitake assados com saquê e abacaxi. Deu certo, inclusive na vida real. Entrou para o cardápio.
De repente os sabores gostosos saíram de cena. Vi em um restaurante fino uma compota de kiwis inteiros, peludos, servida com ouriço para a sobremesa. Diante da minha cara, o garçom, em tom cínico e sorriso torto no canto da boca, sugeriu trocar a compota peluda por uma versão salgada de compota de tomate. Não era um pesadelo, mas não dá para dizer que era uma sobremesa de sonho. Acho que era para falar da falta de opção da época.
Hoje fui eu que acordei com um esboço de sorriso estampado no rosto. Despertei de um almoço entre amigas, amigas queridas de verdade, que me acompanhavam num lady’s lunch, regado a vinho espumante e com um bufê de doces para a sobremesa. Nada daquela empáfia peluda do restaurante luxuoso na aparência. Era um manjar que brilhava nos meus olhos. Literalmente: um facho de luz de fim de tarde cortava janela adentro e iluminava aquele pudim branco que flutuava no prato de tão leve. Era simples, cremoso, com lascas de coco fresco e crocante. A consistência era macia. Tinha calda, mas não era de ameixas. Tirinhas de casca de laranja, transparentes de tão finas, faziam parte da compota temperada com água de flor de laranjeira. Era tudo tão saboroso, leve, claro. Um sonho de sobremesa, antes mesmo do café da manhã para despertar.