Sobremesa quente
Por Rita Lobo - 20 de outubro de 2008
Pode ser de fruta raspada, amassada, ou de legumes, mas uma papinha foi o primeiro prato de todos nós. Por isso, talvez, quando estamos doentes, e já não temos nem o peito nem o colo da mãe à disposição, comida com jeito de papa é a única coisa que dá para comer. Purê de batata morninho, canja de galinha, cabelo de anjo na manteiga. Essas coisas.
No fim de semana passado, comecei a sentir o pescoço endurecer. Não era tensão. A dor foi se alastrando pelo corpo. Músculos, articulações, todos se estranhando. Depois veio o enjôo, um cansaço. Peguei uma dessas viroses de criança que derrubam qualquer adulto. Vou poupar você dos detalhes, mas passei a noite com calafrios e o dia estatelada na cama.
As crianças, graças a Deus, ficaram bem. Um nariz escorrendo aqui, uma dorzinha de barriga ali e mais nada. E eu na cama. Nem chá dava para tomar. Dois dias se passaram e fiquei com fome. Comi um pedaço de pão. Beleza. Tomei uma xícara de chá. Pronto. Meu apetite se restabeleceu. Mas eu ainda estava insegura. Fiquei pensando em que comer. Macarrão, não. Canja, não. Era um doce que eu queria. Bolo, não. Mingau. Sim! Mingau de maisena.
Ainda criança, eu adorava fazer e comer mingau de maisena. Uma xícara de leite, uma colher de maisena e outra de açúcar. Fogo baixo, colher mexendo sem parar. Passei anos da minha vida fazendo esse mingau. Até que, em 1995, com o livro da Nina Horta, Não é sopa, aprendi como se faz mingau de maisena. Faltava uma colher de manteiga. E você não imagina a diferença que uma única colher de manteiga pode fazer.
Por que ninguém me ensinou isso antes? Passei anos, 20 anos, sem saber que comia um mingau sem graça. Canela, como a Nina manda polvilhar, eu até polvilhava. Mas é a manteiga que transforma aquela comida de criança num doce digno de desejo. Um mingau de textura aveludada e brilho acetinado. Uma musseline quente. Um pijama de flanela num dia frio.
A virose acabou, mas a vontade de comer mingau, não. Fiquei um pouco sem graça comigo mesma. Que desejo mais mixo. Fui para a cozinha determinada a vestir o meu simples objeto de desejo com um pouco de glamour.
Pensei em colocar morangos, mas não tinha na geladeira. Lembrei-me do malabie, que aqui entre nós é um mingau frio, perfumado com almíscar, e resolvi juntar umas gotinhas de água de rosas. Ficou incrível. Cogitei usar uns damascos, mas seria uma cópia barata do doce árabe. Mas o aroma de mil e uma noites estava lá. E na geladeira estavam os figos de que tanto gosto.
Então, o mingau fantasiado de sobremesa ficou assim: 4 figos descascados e cortados em pedaços, divididos em duas tigelas; para a panela vai 1 xícara (chá) de leite, 2 colheres (chá) de açúcar, 2 colheres (chá) de maisena, tudo em fogo baixo, sem parar de mexer; quando o mingau engrossa, ele ganha 1 colher (chá) de manteiga e umas gotas de água de rosas. Misture bem, desligue o fogo e coloque o mingau quente sobre o figo, nas duas tigelas. Por cima de tudo, coloquei umas amêndoas torradas e picadas. Pronto, a papinha ficou com jeito de sobremesa quente.
No fim de semana passado, comecei a sentir o pescoço endurecer. Não era tensão. A dor foi se alastrando pelo corpo. Músculos, articulações, todos se estranhando. Depois veio o enjôo, um cansaço. Peguei uma dessas viroses de criança que derrubam qualquer adulto. Vou poupar você dos detalhes, mas passei a noite com calafrios e o dia estatelada na cama.
As crianças, graças a Deus, ficaram bem. Um nariz escorrendo aqui, uma dorzinha de barriga ali e mais nada. E eu na cama. Nem chá dava para tomar. Dois dias se passaram e fiquei com fome. Comi um pedaço de pão. Beleza. Tomei uma xícara de chá. Pronto. Meu apetite se restabeleceu. Mas eu ainda estava insegura. Fiquei pensando em que comer. Macarrão, não. Canja, não. Era um doce que eu queria. Bolo, não. Mingau. Sim! Mingau de maisena.
Ainda criança, eu adorava fazer e comer mingau de maisena. Uma xícara de leite, uma colher de maisena e outra de açúcar. Fogo baixo, colher mexendo sem parar. Passei anos da minha vida fazendo esse mingau. Até que, em 1995, com o livro da Nina Horta, Não é sopa, aprendi como se faz mingau de maisena. Faltava uma colher de manteiga. E você não imagina a diferença que uma única colher de manteiga pode fazer.
Por que ninguém me ensinou isso antes? Passei anos, 20 anos, sem saber que comia um mingau sem graça. Canela, como a Nina manda polvilhar, eu até polvilhava. Mas é a manteiga que transforma aquela comida de criança num doce digno de desejo. Um mingau de textura aveludada e brilho acetinado. Uma musseline quente. Um pijama de flanela num dia frio.
A virose acabou, mas a vontade de comer mingau, não. Fiquei um pouco sem graça comigo mesma. Que desejo mais mixo. Fui para a cozinha determinada a vestir o meu simples objeto de desejo com um pouco de glamour.
Pensei em colocar morangos, mas não tinha na geladeira. Lembrei-me do malabie, que aqui entre nós é um mingau frio, perfumado com almíscar, e resolvi juntar umas gotinhas de água de rosas. Ficou incrível. Cogitei usar uns damascos, mas seria uma cópia barata do doce árabe. Mas o aroma de mil e uma noites estava lá. E na geladeira estavam os figos de que tanto gosto.
Então, o mingau fantasiado de sobremesa ficou assim: 4 figos descascados e cortados em pedaços, divididos em duas tigelas; para a panela vai 1 xícara (chá) de leite, 2 colheres (chá) de açúcar, 2 colheres (chá) de maisena, tudo em fogo baixo, sem parar de mexer; quando o mingau engrossa, ele ganha 1 colher (chá) de manteiga e umas gotas de água de rosas. Misture bem, desligue o fogo e coloque o mingau quente sobre o figo, nas duas tigelas. Por cima de tudo, coloquei umas amêndoas torradas e picadas. Pronto, a papinha ficou com jeito de sobremesa quente.