Smoothie

Smoothie
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Por Rita Lobo - 10 de março de 2007


Eu sou do tempo que fruta batida com suco de laranja ou com leite era vitamina. A combinação clássica, pelo menos na casa da minha mãe, era banana, maçã e mamão. De vez em quando, a bebida ainda podia ser enriquecida com uma bola de sorvete de creme. Mas continuava sendo uma vitamina. E sorvete de chocolate com leite, sem as frutas, era milkshake. Isto é, não para o meu pai que insiste em chamar milkshake de sorvete batido. Para ele, uma pessoa não tem um insight, ela tem um lampejo. E o design de qualquer coisa? É o desenho. Outro dia perguntei para a Marina, que trabalha aqui no escritório, se ela havia gostado de estudar na Escola Graduada. A Fernanda, que conhece meu pai, caiu na gargalhada. “Olha a filha do Guilherme falando...” É Graded que se fala. Era para eu ter perguntado se ela gostou de se formar no Graded (e daí a Marilu, que é editora aqui do Panelinha, provavelmente me mandaria um e-mail sugerindo que eu escrevesse: Graded, a escola americana em São Paulo). Anyway, a questão aqui é que vitamina agora é smoothie. Pelo menos para o pessoal de uma companhia aérea.

Falar mal de comida de avião é um assunto tão batido que não dá para ficar criticando o lanchinho da ponte aérea. Até porque, nem tem mais sanduichinho no vôo. Tem smoothie. E para o passageiro não perceber que não vai ganhar sanduíche, a aeromoça, quer dizer, a comissária de bordo distribui um folhetinho na entrada do avião sobre “a nossa novidade para este verão”. Junto tem um cupom para trocar por um sanduíche em um fast food e “você se lembrar da viagem mais refrescante da sua vida”. Como? O vôo atrasa uma hora, o aeroporto parece uma rodoviária, meus filhos estão exaustos e esta é uma viagem refrescante? E eu ainda tenho que ir até o fast food para ganhar o sanduíche que deveria ter sido entregue no vôo.

Mas a minha sede por assuntos para este blog é maior que o meu mau humor. Abro o folhetinho para, finalmente, ler sobre a novidade que, pelas minhas contas, há uns dez anos já deixou de ser novidade em qualquer lugar do mundo. Em Londres, na década de 1990, tinha um smoothie bar a cada esquina (claro que estou exagerando, mas dizer que smoothie é uma novidade também é um exagero). A explicação começa assim:

Ismúfi. É assim que se fala o nome da nova bebida que estamos servindo para os seus clientes...” Ismúfi? Não, ismúfi não dá. Não é à toa que as comissárias de bordo falam inglês daquele jeito! Ou vocês acham um nome em português, pode até ser vitamina, ou ensinam a falar direito. É só dizer smuzi, colocando a língua entre os dentes no zi. Ou não ensina nada. Mas ensinar errado, não.

Um amigo que pegou o mesmo vôo que eu conta que, na vez dele ganhar um copinho com “a bebida do verão”, a comissária estava tão nervosa com o nome que foi logo dizendo, “é orgute batido com morango, quer?” Ele quis. Não gostou. Eu não achei ruim. Aliás, achei bem bom terem tirado aqueles sanduíches fedidos de “pão de batata com blanquete de peru, queijo roquefort light e tomate seco”. Quem é que inventa essas combinações, quer me dizer?

Antes de passar o carrinho, a aeromoça anuncia que poderei escolher entre duas opções de “ismúfis, uma sofisticada combinação de frutas batidas com sorbet – um tipo de sorvete sem leite – ou frozen iogurte light. No vôo de hoje temos: ismúfi de morango, amora e sorbet de limão e também de manga, banana e frozen iogurte light.” O folhetinho também apresenta uma receita: “80 g de polpa de açaí, 90 ml de guaraná diet, 2 bolas caprichadas de sorbet de limão e 80 g de morangos congelados. Depois é só bater e se divertir”. Como? Smoothie também dá barato? Estou começando a achar que estava enganada, smoothie não é uma vitamina. Mas também, fica combinado, pelo menos aqui entre nós, que também não é ismúfi. Ou, então, podemos agradecer a bebida dizendo "fenk you very much".