Sal do Atacama
Por Rita Lobo - 26 de fevereiro de 2008
Há tempos, fiz um jantar na minha casa e um dos convidados disse que iria levar uma amiga. Para a minha alegria, era a Iná. Os dois trouxeram um pote de sal, mais precisamente de Fleur de Sel de Guérande, um vaso de ervas plantadas e um bilhetinho escrito pela Iná: “De doce basta a vida!”
Pois bem, agora que Iná, Silvia, Marcia e Andrea dominaram o Panelinha, resolvi tirar uns dias de férias e vim parar no meio do deserto. Aliás, um deserto de sal.
São Paulo e San Pedro de Atacama, no Chile, estão praticamente na mesma latitude. Para chegar até aqui, porém, é necessário pegar um vôo até Santiago, umas 4 horas em direção ao sul do Chile, depois outro até Calama, mais 2 horas para o norte, sem contar as 2 horas de espera no aeroporto. São muitas horas (desnecessárias) de viagem e, depois, mais 1 hora de carro, deserto adentro. Já era quase hora do jantar quando cheguei ao hotel, mas decidi tomar apenas uma taça de vinho, chileno, por supuesto. Bem cedinho, no dia seguinte, iria a cavalo até o Vale da Morte. E fui. Rapidamente descobri a razão do nome do local: voltei muerta! Duas horas a cavalo sob o sol do deserto requer um pouco mais de treino. À tarde, resolvi fazer um passeio mais light: uma volta no Salar do Atacama.
Antes de continuar, quero pedir a sua permissão para hablar en portuñol. Ou mejor, hablar, djá estoy hablando, quiero escribir. Com todo o respeito aos nossos vizinhos de América del Sur, mas parte da diversão da viagem és hablar en portuñol.
Nada a ver: quando eu era pequena, meu pai adorava colocar um LP com a história do Pinocchio para meus irmãos e eu ouvirmos; o detalhe é que era em espanhol. Pinocchio no quiere estudiar, y ademas miente. E essa maldita frase está cravada na minha mente. Basta alguém perguntar qualquer coisa que tenho vontade de responder: Pinocchio no quiere estudiar, y ademas miente.
Mas volviendo ao sal, apesar de toda a moda em torno dele, os atacamenhos não voltaram atrás: eles deixaram de extrair e de comercializar o sal daqui há quase duas décadas. O processo era muito caro. E, hoje, quem quiser experimentar o exótico sal do Atacama tem que fazer como djo. Afinal, de dulce, djá basta a bida, berdá?