Sabores da fazenda
Por Rita Lobo - 05 de maio de 2008
Minha avó Maria Rita nasceu numa fazenda em Queluz, cidade na divisa do Estado de São Paulo com o Rio de Janeiro. Por sorte, veio para a capital paulista ainda pequena. (Sorte porque, se não tivesse vindo para cá, ela não teria conhecido meu avô Lobo, e meu pai não teria nascido, logo, eu também não.) Por outro lado, junto com a mudança da família Nogueira Garcez (este é o sobrenome da minha avó) veio para a cidade a minha única chance de ter alguma ligação com a terra.
Pensando bem, talvez seja exatamente este o motivo pelo qual eu goste tanto de fazenda, como se brotasse em mim uma saudade de algo que eu não vivi. Para mim, o campo é sempre mágico, inspirador. A mente corre solta. “Avoa”. Os dias ficam com gosto de sonho. Sabe aquela pergunta típica de começo de namoro: “você gosta mais de praia ou de campo?” Pois é, mesmo gostando de praia, eu sou “de campo”. (Tenho uma tia que vive dizendo que adora cheiro de cocô de cavalo. Eu não chego a tanto.)
Fui passar o feriado numa fazenda próxima à Fazenda Pinhal. Há anos a Sofia, herdeira do local, me fala para visitá-la. A propriedade foi tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional e, depois de muita restauração, aliás, primorosa, foi transformada em um pequeno hotel, que faz parte da Associação Roteiros do Charme. Resolvi almoçar lá.
Quase caí para trás. Há tempos não via um lugar tão esplendoroso. Os jardins, o pomar, as ruas de musgo, as alamedas de jabuticabeiras, o túnel de primaveras. Uma cidade utópica esculpida na mata nativa, há mais de um século, pela Condessa do Pinhal, tataravó da Sofia. A arquitetura cafeeira, os móveis de época, os quadros do Império, há tanto para falar sobre a Fazenda. Mas é sobre o livro que eu quero contar. Ou melhor, sobre as receitas dele.
Não sei muito bem o que eu estava fazendo em 2005 que não comprei, logo no lançamento, Fazenda do Pinhal, Caderno de receitas e histórias de família. Mas, de certa forma, foi bom. A leitura fica ainda mais saborosa depois de ter conhecido o lugar. “Num grande caderno, escrito à mão, os amigos foram deixando as suas receitas preferidas”, conta Helena Carvalhosa, autora do livro, mãe da Sofia e bisneta da Condessa do Pinhal.
Confesso que, para mim, é um exercício ler receitas sem ir formatando na cabeça. Faço isso há mais de uma década! “Bata todos os ingredientes e leve para assar.” Penso: bata como? Na batedeira, à mão, com fouet, com colher, com garfo? Qual a assadeira? Retangular, uma fôrma redonda, com furo, sem, untada, polvilhada? Sempre me coloco no lugar de quem não sabe cozinhar. Mas, neste caso, exatamente por não ter um padrão – dá para ouvir cada um dando a sua receita – o livro ficou tão interessante. Não é um livro para aprender a cozinhar. É um livro para quem gosta de cozinhar.
São umas duzentas receitas. Tem de tudo. Clássicos, invenções, comida de dia-a-dia, pratos especiais. Tudo parece saboroso. Comida com bom gosto. E cada um dá a receita do seu jeito. Na sopa de beterraba, deixada no caderno por Melanie Farkas, não há a quantidade dos ingredientes. Mas tem o preparo e dicas ótimas: “na hora de servir, colocar duas gemas cruas; sem a carne (músculo), juntar creme de leite azedo; em vez de ralar a beterraba, peneirar tudo e colocar dill (endro) e creme na hora de servir.”
Arroz à moda árabe, asa de galinha chinesa, bitel tonel, camarões grelhados, carne assada com molho ferrugem, ceviche, coalhada, frango com maracujá, guacamole, pão sueco, pesto, peixe assado, picadinho, picanha, vaca atolada, vatapá, caldo verde, sopa de abacate, rocambole de chocolate, rosquinhas... Fiquei tão animada com as receitas que acabei nem falando que o livro é um capricho só: papel, formato, fotos, ilustrações, projeto gráfico. Mas, na minha opinião, este “caderno de receitas” da Fazenda Pinhal tem a maior qualidade que um livro de receitas pode ter: dá vontade de ir para a cozinha. Se bem que, fiquei mesmo é com vontade de passar uma longa temporada na Fazenda. Quem sabe nas férias.
Pensando bem, talvez seja exatamente este o motivo pelo qual eu goste tanto de fazenda, como se brotasse em mim uma saudade de algo que eu não vivi. Para mim, o campo é sempre mágico, inspirador. A mente corre solta. “Avoa”. Os dias ficam com gosto de sonho. Sabe aquela pergunta típica de começo de namoro: “você gosta mais de praia ou de campo?” Pois é, mesmo gostando de praia, eu sou “de campo”. (Tenho uma tia que vive dizendo que adora cheiro de cocô de cavalo. Eu não chego a tanto.)
Fui passar o feriado numa fazenda próxima à Fazenda Pinhal. Há anos a Sofia, herdeira do local, me fala para visitá-la. A propriedade foi tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional e, depois de muita restauração, aliás, primorosa, foi transformada em um pequeno hotel, que faz parte da Associação Roteiros do Charme. Resolvi almoçar lá.
Quase caí para trás. Há tempos não via um lugar tão esplendoroso. Os jardins, o pomar, as ruas de musgo, as alamedas de jabuticabeiras, o túnel de primaveras. Uma cidade utópica esculpida na mata nativa, há mais de um século, pela Condessa do Pinhal, tataravó da Sofia. A arquitetura cafeeira, os móveis de época, os quadros do Império, há tanto para falar sobre a Fazenda. Mas é sobre o livro que eu quero contar. Ou melhor, sobre as receitas dele.
Não sei muito bem o que eu estava fazendo em 2005 que não comprei, logo no lançamento, Fazenda do Pinhal, Caderno de receitas e histórias de família. Mas, de certa forma, foi bom. A leitura fica ainda mais saborosa depois de ter conhecido o lugar. “Num grande caderno, escrito à mão, os amigos foram deixando as suas receitas preferidas”, conta Helena Carvalhosa, autora do livro, mãe da Sofia e bisneta da Condessa do Pinhal.
Confesso que, para mim, é um exercício ler receitas sem ir formatando na cabeça. Faço isso há mais de uma década! “Bata todos os ingredientes e leve para assar.” Penso: bata como? Na batedeira, à mão, com fouet, com colher, com garfo? Qual a assadeira? Retangular, uma fôrma redonda, com furo, sem, untada, polvilhada? Sempre me coloco no lugar de quem não sabe cozinhar. Mas, neste caso, exatamente por não ter um padrão – dá para ouvir cada um dando a sua receita – o livro ficou tão interessante. Não é um livro para aprender a cozinhar. É um livro para quem gosta de cozinhar.
São umas duzentas receitas. Tem de tudo. Clássicos, invenções, comida de dia-a-dia, pratos especiais. Tudo parece saboroso. Comida com bom gosto. E cada um dá a receita do seu jeito. Na sopa de beterraba, deixada no caderno por Melanie Farkas, não há a quantidade dos ingredientes. Mas tem o preparo e dicas ótimas: “na hora de servir, colocar duas gemas cruas; sem a carne (músculo), juntar creme de leite azedo; em vez de ralar a beterraba, peneirar tudo e colocar dill (endro) e creme na hora de servir.”
Arroz à moda árabe, asa de galinha chinesa, bitel tonel, camarões grelhados, carne assada com molho ferrugem, ceviche, coalhada, frango com maracujá, guacamole, pão sueco, pesto, peixe assado, picadinho, picanha, vaca atolada, vatapá, caldo verde, sopa de abacate, rocambole de chocolate, rosquinhas... Fiquei tão animada com as receitas que acabei nem falando que o livro é um capricho só: papel, formato, fotos, ilustrações, projeto gráfico. Mas, na minha opinião, este “caderno de receitas” da Fazenda Pinhal tem a maior qualidade que um livro de receitas pode ter: dá vontade de ir para a cozinha. Se bem que, fiquei mesmo é com vontade de passar uma longa temporada na Fazenda. Quem sabe nas férias.