Quarta-feira de Cinzas

Quarta-feira de Cinzas
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Por Rita Lobo - 21 de fevereiro de 2007


Meu sistema imunológico anda cada dia mais estranho. A última dele é que não me deixou ler jornal, ou revista semanal, nem assistir à televisão nos últimos dias. Mas, ontem, acho que descobri a razão: medo de morrer de constrangimento. Antes do nascimento dos meus filhos, carnaval era sinônimo de “ir-para-Nova-York-com-um-bando-de-amigas”. Long time... Agora, se precisar, até em bailinho eu vou. Por sorte, eles ainda não pediram.

Tenho certeza de que existe uma leitura socioantropológica incrível para essa “manifestação popular”... Mas o que posso fazer, vou lutar contra o meu próprio sistema imunológico? Eu morro de vergonha pela Globeleza. Fico com um aperto no coração até pelos apresentadores que passam o ano inteirinho construindo a imagem de jornalistas sérios e, no carnaval, vestem aquele uniforme estranho e apresentam o desfile das escolas em ritmo de samba. Imagino que desfilar seja uma experiência única, e tenho uma porção de amigos que, ano após ano, pagam qualquer preço por uma fantasia da Mangueira. Mas nem pela televisão consigo assistir a um desfile sem ficar constrangida.

Este ano, não fosse pela “maratona de carnaval” do canal a cabo Discovery Kids (ainda não sei se é o favorito dos meus filhos ou da mamãe) não teria percebido que passamos por mais um carnaval. Não vi uma bunda sequer. Isto é, salvo a da Globeleza, que começa a rebolar antes mesmo do Natal. Meu filho, então, pergunta se eu gosto de carnaval. Não quero influenciá-lo, vai saber se a felicidade dele está justamente na avenida... Respondo perguntando se ele gosta. “Acho que não”, ele responde. “Mas por que é que todo mundo tem que ficar fantasiado de cocó no carnaval?” Sei lá, Gabriel, nem tinha reparado que as pessoas ficavam com cara de galinha. Mas acho que você tem razão, também não gosto muito de carnaval. Pronto. Acho que o sistema imunológico é hereditário. Quando a Dora, minha filha, quiser saber o que eu penso do carnaval, vou logo dizendo a verdade: é bom porque é feriado e São Paulo fica uma delícia.