Calculado para ser viciante
Por Rita Lobo - 26 de maio de 2023
Você é viciado em berinjela? Não, a pergunta não é se você gosta de berinjela. É se você acorda na fissura de comer berinjela. Toma um café e precisa de uma berinjela… É vício, mesmo, no sentido literal! Aposto que não, né? Então deixa eu explicar melhor que conversa é essa.
Tem um monte de gente séria pesquisando a relação entre vício e ultraprocessados. Uma dessas pesquisadoras é a Ashley Gearhardt, da Universidade de Michigan nos Estados Unidos. Eu ouvi uma entrevista dela, no podcast The Leading Voices in Food, da universidade de Duke, em que ela compara ultraprocessados com cigarro.
Muitos pesquisadores trabalham para entender como ultraprocessados viciam e como ajudar as pessoas que sofrem com o consumo compulsivo
Ela explica assim: o que vicia no cigarro é a nicotina. Mas nem tudo que tem nicotina é viciante. Quer ver? Tomate e berinjela, por exemplo, têm nicotina. Mesmo assim, a gente não fica viciado a ponto de comer compulsivamente.
Níveis extremos
Ela conta que para viciar o fumante, a indústria do cigarro pega a folha de tabaco, que tem um índice alto de nicotina naturalmente, e processa para chegar a níveis extremos de nicotina. Mas não é só isso: esse processo de industrialização também adiciona ao cigarro químicos, como broncodilatadores, que fazem a fumaça entrar no pulmão mais rapidamente e chegar ao cérebro com mais velocidade.
A indústria ultraprocessou a folha de tabaco para criar o cigarro. É uma formulação calculada para ser o mais viciante possível.
Berinjela tem nicotina, mas você não fica viciado. A indústria transforma a folha do tabaco, que é rica em nicotina, num produto ultraprocessado altamente viciante: o cigarro
Os alimentos de verdade têm açúcar e gordura naturalmente. Mas a gente não desenvolve uma relação compulsiva com frutas, que são ricas em açúcar, ou castanhas, que são ricas em gordura. Fora que, na natureza, não existe nenhum alimento que tenha tudo em excesso. Se ele tem muita gordura, não tem muito açúcar; se é muito doce, não tem tanta gordura.
Muito de tudo
Já nos ultraprocessados, além de as quantidades de açúcar, de gordura e de sal serem todas elevadas, o que por si já deixa a comida viciante, esse produtos ainda por cima levam na composição aditivos químicos, como saborizantes e aromatizantes. Eles aceleram e amplificam, no cérebro, a reação de prazer, que também é viciante. É igualzinho cigarro!
Essa pesquisadora também compara o comportamento das pessoas que sofrem com o consumo compulsivo. Você com certeza conhece alguém que já teve problemas de saúde relacionados ao tabagismo e mesmo assim não consegue parar de fumar. Com ultraprocessados é a mesma coisa.
Não é brincadeira que é impossível comer um só. Eles são desenvolvidos pra serem viciantes. E assim como o cigarro eles também fazem muito mal pra saúde. Pense nisso.
Pense Nisso: veja mais conteúdos como este.