Passagem de ano
Por Rita Lobo - 01 de janeiro de 2012
Sempre que dá, saio de férias com meus filhos uma ou duas semanas antes do Natal. É descanso duplo: viagem com vista para o mar, somada à saída pela tangente do estresse de dezembro. No ano passado – hoje é dia 1° de janeiro e já estou me referindo a ontem como ano passado! –, não foi diferente. Meu amor, minhas enteadas, meus filhos e eu fomos a la playa.
Pela minha cor, e pelo meu gingado, não seria difícil de imaginar a minha falta de intimidade com o sol. Ou com areia. Na realidade, só vou à praia em dias feios, horrendos. Vale até garoa – coisas de uma paulistana que cresceu em apartamento. Mas, óbvio, foram sete dias de sol intenso. Nenhuma nuvem no céu.
Então ficamos assim: Ilan cuidava da diversão, e eu, da alimentação. Ele passava o dia na praia com as crianças, e eu, com a barriga no fogão. Só que, a cada dia, eles queriam ir a uma praia diferente. Além de cozinheira, fiquei de motorista. Numa das praias, tinha um portão verde que chamou minha atenção. Amor à primeira vista. Platônico, mas amor.
No dia seguinte, a imagem não saiu da cabeça. Antes de começar a preparar o almoço, peguei o carro e voltei lá, sozinha, apenas para fotografar. Usei todas as lentes e todos os filmes da minha Hipstamastic, o aplicativo que simula uma câmera de antigamente – a única parte chata é que, depois de alguns cliques, o filme começa a rebobinar, automaticamente. (Esses desenvolvedores são gênios! A gente fica achando que sabe fotografar, de verdade.)
Mil fotos, e o tal portão não saiu da minha cabeça. E do meu celular – virou fundo de tela. Depois veio Natal, mais outra semana na praia, essa última, com chuva, graças a Deus. Teve a ceia do réveillon, e a porta continua batendo na minha mente.
Hoje eu estou decidida a decifrar a imagem. Meio óbvio que tenha a ver com as ‘portas’ que todos nós queremos que se abram no ano que está começando. Mas por que essa e não outra, talvez mais próspera, como deveriam ser os desejos de ano novo?
Num olhar mais atento, dá para imaginar um jardim abundante lá dentro, talvez até um pouco selvagem, que chega a escapar pela fresta. As tábuas de madeira que formam essa entrada, apesar de simples, parecem ser maciças, nada de compensados, que certamente não resistiram tão bravamente ao tempo. Ah, sim, as marcas do tempo. São elas que transformam essa porta numa porta única, que não pode ser duplicada. Poderia ser refeita e poderia ficar parecida. Mas não seria igual.
Que boa imagem para a gente se inspirar nessa passagem de ano! Não seria incrível ter recursos internos tão ricos quanto os que estão ali dentro? E ser natural e sólido como a madeira? E usar o tempo a nosso favor, revelando a nossa experiência, as nossas qualidades – e os nossos defeitos. O que pode ser mais próspero do que escolher as portas que queremos abrir, ou fechar? E não vai ser ótimo se a gente ainda puder ajudar as pessoas que a gente ama a abrir portas importantes para a vida delas? Acho que era isso que essa imagem queria nos dizer. Um bom e doce 2012 para todos nós!
Pela minha cor, e pelo meu gingado, não seria difícil de imaginar a minha falta de intimidade com o sol. Ou com areia. Na realidade, só vou à praia em dias feios, horrendos. Vale até garoa – coisas de uma paulistana que cresceu em apartamento. Mas, óbvio, foram sete dias de sol intenso. Nenhuma nuvem no céu.
Então ficamos assim: Ilan cuidava da diversão, e eu, da alimentação. Ele passava o dia na praia com as crianças, e eu, com a barriga no fogão. Só que, a cada dia, eles queriam ir a uma praia diferente. Além de cozinheira, fiquei de motorista. Numa das praias, tinha um portão verde que chamou minha atenção. Amor à primeira vista. Platônico, mas amor.
No dia seguinte, a imagem não saiu da cabeça. Antes de começar a preparar o almoço, peguei o carro e voltei lá, sozinha, apenas para fotografar. Usei todas as lentes e todos os filmes da minha Hipstamastic, o aplicativo que simula uma câmera de antigamente – a única parte chata é que, depois de alguns cliques, o filme começa a rebobinar, automaticamente. (Esses desenvolvedores são gênios! A gente fica achando que sabe fotografar, de verdade.)
Mil fotos, e o tal portão não saiu da minha cabeça. E do meu celular – virou fundo de tela. Depois veio Natal, mais outra semana na praia, essa última, com chuva, graças a Deus. Teve a ceia do réveillon, e a porta continua batendo na minha mente.
Hoje eu estou decidida a decifrar a imagem. Meio óbvio que tenha a ver com as ‘portas’ que todos nós queremos que se abram no ano que está começando. Mas por que essa e não outra, talvez mais próspera, como deveriam ser os desejos de ano novo?
Num olhar mais atento, dá para imaginar um jardim abundante lá dentro, talvez até um pouco selvagem, que chega a escapar pela fresta. As tábuas de madeira que formam essa entrada, apesar de simples, parecem ser maciças, nada de compensados, que certamente não resistiram tão bravamente ao tempo. Ah, sim, as marcas do tempo. São elas que transformam essa porta numa porta única, que não pode ser duplicada. Poderia ser refeita e poderia ficar parecida. Mas não seria igual.
Que boa imagem para a gente se inspirar nessa passagem de ano! Não seria incrível ter recursos internos tão ricos quanto os que estão ali dentro? E ser natural e sólido como a madeira? E usar o tempo a nosso favor, revelando a nossa experiência, as nossas qualidades – e os nossos defeitos. O que pode ser mais próspero do que escolher as portas que queremos abrir, ou fechar? E não vai ser ótimo se a gente ainda puder ajudar as pessoas que a gente ama a abrir portas importantes para a vida delas? Acho que era isso que essa imagem queria nos dizer. Um bom e doce 2012 para todos nós!