Pão de rainha

Pão de rainha
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Por Rita Lobo - 21 de junho de 2010


Quase nunca tomo café puro. É sempre com leite. E nas mais variadas formas e proporções. Quando estou com tempo, peço capuccino. Ele é bom de tomar lentamente. Mas se naquele dia eu já tiver exagerado nas xícaras, tomo latte. Mais leite, menos café. De passagem, na correria, peço um cafezinho curto com um pouco de leite. Um macchiato, pode-se dizer. Mas, se for no boteco da esquina, vem um café coberto com espuminha. Aí reitero o meu pedido, e a pessoa do lado de lá do balcão traz um pouco mais de leite para eu derramar no café.

Há muitos anos, café com leite era café com leite. No máximo, pingado ou média. Mas na casa da minha mãe a única diferença era se o leite vinha com ou sem nata. Foi nesta época que criei aversão àquela película branca boiando sobre o meu café com leite. Causa repulsa. Nojo, mesmo. Mas o ser humano é um bicho esquisito. Desde a infância, um dos meus sorvetes favoritos é, justamente, o de nata. E não é só.

Clotted cream é uma espécie de manteiga de nata. Coisa típica inglesa. É para passar no pão do chá da tarde. (Aliás, no meu chá também vai leite, mas, por sorte, prefiro um pingo dele frio; posso tomar chá de olhos fechados.)

Que eu saiba, apesar de todos os avanços gastronômicos no sentido da globalização, ainda não se encontra clotted cream para comprar por aqui. E também não pretendo fazer. Já pensou, fazer o próprio pão ainda vai, mas fazer a própria manteiga? Acho que seria um exagero.

Eu tinha menos de 15 anos quando comi clotted cream pela primeira vez. Me derreti. Ainda bem que só fiquei uma semana em Londres. Não deu tempo de virar vício. Clotted cream é gordura na veia.

Mas o pão para passar o tal creme não pode ser qualquer um. Francês nem pensar. Baguete, chalá, brioche, pão de fôrma, nada disso. Clotted cream se espalha em scone, um pãozinho de origem escocesa, mas que é símbolo do chá da tarde inglês. Ele, sim, pode e deve ser feito em casa.

O mais comum é que seja doce. Pode ou não ter uvas-passas. Com figo seco picado fica uma delícia. Também pode ser salgado. Gergelim, nozes, cebola, tudo vai. A receita que escolhi é bem básica, mas, dizem, a favorita da rainha. A massa é doce, com um pouco de passas, ótima para servir às cinco em ponto. Mas, por aqui, infelizmente, sem clotted cream. Já a bebida você pode escolher entre café ou chá. Isto é, desde que o leite seja sem nata, please.

Scones com passas

Sirva ainda quente, corte ao meio e, na falta de clotted cream, espalhe um pouco de manteiga e geleia.

Ingredientes

3 xícaras (chá) de farinha de trigo
1 xícara (chá) de açúcar
1 colher (chá) de fermento em pó
½ colher (chá) de sal
200 g de manteiga sem sal, gelada e cortada em cubinhos
1 ovo grande
1 colher (sopa) de essência de baunilha
½ xícara (chá) de leite
¼ de xícara (chá) de uvas-passas

Modo de preparo

1. Preaqueça o forno a 180ºC (temperatura média). Passe pela peneira a farinha, o açúcar, o fermento e o sal. Na mesma tigela, com os ingredientes secos peneirados, junte a manteiga em cubinhos e misture com a ponta dos dedos até formar uma farofa grossa. Acrescente os outros ingredientes e mexa com uma colher de pau, apenas para misturar.

2. Para assar, prefira uma assadeira de muffin, preenchendo cada cavidade apenas até a metade. Caso contrário, use uma assadeira coberta com papel-manteiga e coloque a massa em colheradas. Deixe alguns centímetros entre cada pão (a massa dá para duas assadeiras grandes).

3. Leve para assar por cerca de 15 minutos, ou até que os scones estejam dourados. Retire do forno e sirva a seguir.