Nituki para Gil

Nituki para Gil
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Por Rita Lobo - 12 de janeiro de 2009


Por Maria Clara Vergueiro

Rita Lobo saiu de férias. Mas antes me deixou uma saborosa missão. Eu sou Maria Clara e, a partir de hoje, vou contar a história pouco conhecida de uma chef, dona de um restaurante com 11 anos de filas na porta.

Muito antes disso, porém, a nossa personagem já alimentava gente como Caetano e Gil, quando viveram juntos, itinerantes pelo mundo, ao dissabor da ditadura. Entre Londres dos anos 70 e São Paulo dos anos 80, muitas histórias se desenrolaram. E receitas para acompanhá-las não faltam. Bacalhau para João Gilberto no apartamento de Nova York, lentilhas especiais que fizeram um certo pianista se render de vez aos seus encantos, quiches de porta em porta na volta ao Brasil. Durante essa semana, você vai acompanhar diariamente histórias e receitas dessa baiana cosmopolita, meio hippie, meio business woman, que hoje pilota seus restaurantes em São Paulo.

Ina de Abreu tem jornada dupla, de segunda a segunda, todos os dias do ano. Sem férias. É dona do Mestiço e do Filipa. Quem está acostumado com a imagem estereotipada do baiano descansado, relaxado, à sombra de um coqueiro, não consegue, identificar na mulher enérgica os laços com a Bahia. Mas aí vem o jeito de falar, as referências culinárias, as lembranças da infância, os amigos famosos e aos poucos vai se descortinando a mãe generosa, flexível, simples, preocupada com a comida fresca, feita na hora.

Autodidata é a palavra que define o estilo e a alma desta cozinheira. Dos veraneios da infância, na Ilha de Itaparica, ela levou o método de comer uma coisa de cada vez. “Não gostava de nada misturado no meu prato. Primeiro as ostras, depois o arroz e feijão, depois a salada”. Queria sentir o gosto individual de cada um deles.

Mais tarde, quando se casou com o então baterista de Caetano e Gil, Tutty Moreno, ela assumiu a responsabilidade de alimentar os estômagos dos músicos que viviam com as mulheres e filhos, todos juntos, em comunidade, praticando o melhor do que sabemos por “amor livre”. “Livre de culpas, de posses. Todo mundo queria dar uma contribuição na casa.” A de Ina era a comida, que passou a, para usar uma expressão que já virou jargão na literatura gastronômica, “alimentar a alma” daqueles artistas.

A principal referência nesta etapa da vida da chef foi a comida natural. Quando desembarcou em Londres, o que todos queriam era sentir o poder dos alimentos que vinham da terra. Com isso, as primeiras incursões de Ina, que até ali nunca tinha entrado na cozinha da sua “Bá”, (uma babá baiana que deixava a menina encantada com os mistérios de se fazer um bolo), não poderiam fugir do estilo mais macrobiótico. Foi o suficiente para que ela nunca mais se afastasse das panelas. Começou a desvendar aos poucos os mistérios dos alimentos, pesquisando por contra própria as características de amidos, carboidratos, legumes e raízes, e aplicava em casa, na hora de alimentar os amigos, tudo o que aprendia lendo e observando.

Foi numa dessas, no bandejão natureba do festival de música de Glastonbury, cidade que tem o dia mais claro do ano na Inglaterra, que aprendeu o Nituki, espécie de refogado que virou hit na casa e era o preferido do Gil.

Nituki de legumes
Serve 2 pessoas

Ingredientes

4 colheres (sopa) de azeite
120 g de cebola roxa fatiada
1 colher (chá) de alho
1 colher (sopa) de molho de soja
¼ de colher (chá) de sal
3 colheres (sopa) de cebolinha picada
100 g de cenoura cortadas em palito
100 g de brócolis
100 g de vagem holandesa
100 g de acelga picada grosso
100 g de couve-flor em floretes

Modo de preparo

1. Cozinhe a vapor a cenoura, os brócolis e a vagem por 6 minutos e reserve.

2. Numa frigideira antiaderente, aqueça o azeite em fogo médio. Junte a cebola e o alho e misture bem até murchar.

3. Acrescente o molho de soja, os legumes já cozidos a vapor, a acelga e a cebolinha. Misture sem parar até que as folhas da acelga também murchem. Corrija o sal se achar necessário. Sirva com grelhados ou sobre arroz ou macarrão.