Navegar é preciso

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Por Rita Lobo - 20 de abril de 2009


Será Calie o seu nome? O e-mail não estava assinado, mas o endereço eletrônico era esse. Então é à Calie que vou me dirigir. Eu fiquei emocionada e envaidecida com a sua mensagem. E me identifiquei com você. Também tenho filhos pequenos, minha mãe é pesquisadora e professora universitária, como você, e eu também ando cozinhando, e recebendo amigos, bem menos do que eu gostaria. (E, no meu caso, também ando escrevendo menos do eu deveria.) Por isso, “o livro com umas quinhentas páginas para serem degustadas lentamente”, que você sugere, pelo menos em breve não tem muita chance de sair. Mas fiquei toda contente com as suas palavras. Apesar de o Panelinha existir há mais de 9 anos, e diariamente eu receber um montão de e-mails, sempre fico surpresa como pessoas que não se conhecem podem ter intimidade, como se fossem amigas que tomam longos cafés da manhã.

A Franey e eu recentemente nos conhecemos pessoalmente. Numa das nossas trocas de e-mails, ela comentou que estaria no Rio durante a Páscoa. Ela mora numa cidadezinha na Alemanha, e eu em São Paulo. Eu também iria para o Rio. Achamos que seria uma boa oportunidade para nos encontrarmos. Marcamos um café numa chocolateria na Dias Ferreira, no Leblon, e ficamos papeando por duas horas. Ela me trouxe um presentinho fofíssimo, uma caixa de açúcar em forma de barquinho.

Hoje, quando fui fotografar o barquinho boiando no café, meus filhos apareceram e ficaram maravilhados com o novo açúcar. Lembrei que a Franey ainda não tem filhos, a Calie tem dois, mas aparentemente, elas duas, eu e você temos muito em comum. Estamos todas atrás de boas receitas para as nossas cozinhas, é verdade, mas principalmente para as nossas vidas. Vamos testando, nos testando, experimentando, acertamos um temperinho aqui, outro ali, às vezes mudamos radicalmente um ingrediente, deixamos de comer outro, pelo menos durante um tempo, incluímos um pouco de pimenta, tiramos a pimenta, mas vamos navegando, às vezes com mais precisão, de olho na bússola, em outras, apenas aproveitamos os bom ventos. Mas estamos todas no mesmo barco. E quando uma naufraga, como o barquinho de açúcar que vai sendo sugado pelo café, tem sempre outra por perto para dar uma mexida e mostrar que o café só ficou mais doce depois do sufoco.