Música para a alma
Por Rita Lobo - 17 de setembro de 2007
Tenho pensado na alma. E espero que, assim como o corpo, a minha tenha engordado nas festas de Rosh Hashaná, o ano-novo judaico. Seria bom ter uma alma gorda, generosa, que dá colo para os filhos, mas que, principalmente, dá colo para nós mesmos, acolhe, acalma, acalenta. Minha amiga Fernanda Thompson e eu estávamos almoçando num restaurante (isso faz muito tempo) quando entraram duas senhorinhas. A mais nova tinha uns 80 anos. As duas superenxutas. Eram arrumadas, mas sem exagero. Estavam animadas e pareciam ser amigas da vida toda. Eu disse à Fernanda: “olha a gente aí...” E ela, sempre surpreendente, respondeu: “Que nada, quando eu ficar velha, quero ser bem gorda!” Fiquei pensando por alguns instantes: “Acho que eu quero ficar bem doida, falar o que der na telha...” Passamos boa parte do almoço falando sobre o que, de fato, queríamos. Concluímos que, “gordas e doidas”, para nós, representava liberdade. Era isso que queríamos. Mais liberdade. Interna. É para isso que eu quero ter uma alma gorda.
No primeiro e no último shabat de 5767, assisti ao Rabino Nilton Bonder. No primeiro, que foi em 29 de setembro de 2006 (lembro bem, pois foi um dia depois do meu aniversário), estava tão mergulhada nos meus próprios pensamentos, que não ouvi quase nada. Ou melhor, ouvi as músicas. E a voz da minha amiga Fortuna, que canta para a alma. Aliás, acho que o shabat também serve para isso, para ouvirmos a nossa alma.
No shabat que antecedeu Rosh Hashaná, mais uma vez, o Rabino veio do Rio de Janeiro para São Paulo. Mas, desta vez, as palavras dele grudaram feito Super Bonder. Era mais ou menos assim: o pensamento leva à palavra, a palavra leva às ações, as ações levam ao caráter e o caráter leva ao destino. E com este pensamento (ou este destino), comecei o ano de 5768.