Mulheres de verdade
Por Rita Lobo - 11 de janeiro de 2011
Estou muito em falta com as minhas colegas donas de casa. Se bem que dona de casa entre os usuários do Panelinha é o que menos tem. Evidente que não é só por aqui que as mulheres têm jornada dupla – tripla! –, mas, sendo este um site de culinária, poderíamos até fantasiar que as leitoras são mulheres que passam o dia na cozinha. Minhas amigas, meus amigos, brasileiros e brasileiras, sentimos muito, mas Amélia morreu.
Cozinhar era obrigação, virou fardo, passou a ser submissão, caiu em desuso, voltou à moda entre os rapazes, ganhou importância para a saúde, até emocional, e, finalmente, está caindo nas graças das moças. Parece que Amélia, agora cheia de vaidade, quer ressuscitar.
Ela não está mais entre nós, mas dentro da gente tem um pouco dela, de jeitos diferentes. Amélia fica satisfeita cuidando da alimentação do filho, quer fazer charme para o marido, gosta de conquistar com sabores especiais, mas quer receber elogios sempre que encostar a barriga no fogão. Amélia quer reconhecimento. Cozinhar não é mais obrigação. E nem sempre dá prazer. Mas estamos voltando à cozinha. E não estamos sós, largadas sob o assombro da luz fria – aliás, uma boa iluminação é essencial para o convívio harmônico entre os habitantes da casa, até a comida fica mais bonitinha.
Junto conosco queremos a companhia do marido, dos filhos, muitas vezes, inclusive, exigimos a ajuda deles. Amélia quer respeito. E nós, de vez em quando, num gesto de generosidade, deixamos a Amélia nos dominar: cozinhamos o jantar e depois até lavamos a louça. Se bem que Amélia de verdade já saberia que a máquina de lavar louça é indispensável na cozinha.
As minhas colegas donas de casa não são mais donas de casa mas estão descobrindo a cozinha. Ou melhor, estão se descobrindo na cozinha. Tenho recebido e-mails ótimos e não tenho publicado nada por aqui. Então, escolhi três histórias, de mulheres que falam sobre esse novo momento.
E-mail da Maria Fernanda
Olá, Rita!
Com dois anos de casada, nunca tive muito ânimo para me aventurar na cozinha. Nada além de um frango grelhado, salada e omelete. Mas adorava ler as receitas do Panelinha e seu blog. Entrar na cozinha, já eram outros quinhentos. Mas aí, ano novo, vida nova, sabe como é? E resolvi que tinha que cozinhar. Suas receitas pareciam tão fáceis! Por que não? E lá fui eu ao supermercado. Aventura totalmente nova para mim, ir atrás de shimeji, creme de leite fresco! Óbvio que me perdi horrores, mas valeu.
O cardápio do fim de semana foi todo do Panelinha: na sexta, fiz as batatas-bolinha de aperitivo para uns amigos que foram em casa... O maior sucesso! Amei poder servir algo quentinho para eles (geralmente são torradinhas com patê e pizza – shame on me, eu sei...). E o melhor: gastei 10 minutos no preparo. Entre colocar no forno e servi-las, fui tomar banho, secar o cabelo, fazer os últimos acertos na casa.
Sábado, apesar do cansaço da festinha da véspera, dos copos sujos para lavar, decidi que não ia me render ao disk-cantina-mais-próxima-e-pouco-saudável-e-meia-boca de sempre! Os medalhões já estavam descongelados e para acompanhá-los, um arroz a piemontese (medo de decepcionar o marido que é carioca e fã desse arroz – que nunca vejo por SP). Mais um sucesso! E, de novo, pouquíssimo tempo na cozinha (ok, admito que tive a ajuda da minha faxineira, a quem pedi na sexta para deixar o arroz pronto!).
Domingo, não amoleci! A receita escolhida tinha sido a polenta com ragu de shiitake e shimeji. Mas então descobri que tinha acabado com todo o parmesão na véspera! Decidi arriscar: começar a receita do ragu, mas transformá-la num molho branco para comer com uma massinha. E não é que deu certo!
Adorei minha experiência culinária! E nada mais justo do que compartilhá-la com você. Minha próxima aventura será omelete com o shimeji, que sobrou do suposto ragu! Espero conseguir fazer como você ensinou no vídeo. Aliás, esse vídeo é uma faca de dois gumes! Quando o assisti, minha primeira reação foi de quase desespero: meu Deus, nem omelete eu sei fazer! Mas depois do fim de semana, acho que vou conseguir! Ufa, que novela!
Um beijo e obrigada pela “força”!
E-mail da Ana Maria
Cara Rita,
Sou advogada, tenho quase 48 anos e, desde julho de 2010, estou morando em Minnesota/EUA, por conta do trabalho do meu marido. NUNCA havia cozinhado na vida (isso mesmo!). Primeiro porque no Brasil somos muito mal acostumadas com as nossas “assistentes do lar” e, segundo, porque sempre tive preguiça de aprender. Mas aprecio boa comida, infelizmente!
Agora as coisas mudaram, estou aqui nos EUA com minha família e temos que nos alimentar. Aprendi a fazer feijão há dois meses, quando minha panela de pressão saiu do contêiner. Estivemos no Brasil para as Festas e, evidentemente, trouxe seu último livro na bagagem.
Criei coragem, procurei os ingredientes no supermercado local (taí outra dificuldade) e fiz o ensopado de carne ao vinho tinto da página 276.
Ficou DIVINO!
Não sou uma “iniciada”, mas fazer o meu marido comer salsão e achar gostoso foi o melhor acontecimento dos últimos anos. Não fico mais sem consultar seu site...
Feliz Ano Novo!
E-mail da Fábia
Oi, Rita! Tudo bem?
Sabe que, desde que soube do livro novo, fiz uma nota mental: será o presente de aniversário do Ulisses, meu marido, que é o cozinheiro da casa e adora o Panelinha (o bolo delícia de limão é o meu preferido, sem dúvida!). Aí, algo surpreendente aconteceu: eu não desgrudo do livro!!! Hahahaha... Presente de grego, né?
Estou revendo hábitos, mudando utensílios na casa (como é que eu não pensei em substituir os potes de plástico por inox?) e resolvida a cozinhar. Bem, vamos aos poucos... Um risoto aqui, um muffin de chocolate ali. Espero começar logo. Quem sabe umas comidinhas bacanas para o meu filhote de 3 anos?! Vou perseverar.
Well, tudo isso para dizer que eu adorei o livro novo! Parabéns!