Mel nativo

Mel nativo
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Por Rita Lobo - 21 de maio de 2013


Quem me acompanha pelo Instagram sabe que passei a última semana logo ali, em Marrakesh. E um pouquinho pra lá também, no deserto do Saara. Mas o post de hoje, como você pode deduzir pelas fotos, não tem nada a ver com o Marrocos. No evento do Estadão (em que eu dei aquela aula de produção culinária em casa), o 7o Paladar Cozinha do Brasil, a Clara Massote, editora do Panelinha, foi conferir uma atividade muito curiosa, em Itapecerica da Serra. Pelas imagens, deu para adivinhar? Eu nunca imaginei que desse para criar abelhas em casa! Em homenagem ao Dia do Apicultor, a Clara narra para a gente como foi essa experiência.

Mel nativo
Por Clara Massote

Se a principal tendência da culinária contemporânea é aproximar o consumidor do ingrediente na sua fonte, o pessoal do ‘Paladar’ foi ao pé da letra. Sim, porque em uma das aulas promovidas pelo evento, eu e um grupo de curiosos descobrimos que dá para trazer uma matéria-prima super cobiçada para bem perto da gente. Mais precisamente, para nosso quintal ou varanda. E eu não estou falando de horta caseira.

Pode parecer loucura ter uma colmeia em casa. Mas era justamente essa a proposta do ecólogo Jerônimo Villas-Bôas, responsável pela aula "Mel em casa: criação de abelhas nativas". Repare no detalhe: abelhas nativas. São espécies nativas do Brasil, que não têm ferrão, e, por isso mesmo, podem ser facilmente criadas em casas e até mesmo em apartamentos. Sério!

O Brasil tem mais de 300 espécies de abelhas nativas: jataí, mandaçaia, tubuna, etc. Elas são menores e mais mansas que as africanizadas, as abelhas listradas que todos nós reconhecemos (quem já foi picado, então...). Vivem em colmeias menos numerosas e, portanto, poduzem menor quantidade de mel. Por isso mesmo, ele é mais caro. Mas que mel... Realmente delicioso! Costuma ser mais líquido e azedinho do que o mel das africanizadas, e tem um grande potencial gastronômico.

Ainda sim, a coisa toda parece meio esquisita (afinal, justifica ter uma colmeia em casa, gente?). Bom, além da oportunidade de poder ter um mel delicioso, puro e fresquinho em casa, os criadores de abelhas nativas ainda ajudam as espécies a continuar vivendo. Isso porque desde a introdução das africanizadas no Brasil, ainda no século 19, as nativas vêm perdendo espaço e alimento para suas primas mais agressivas. Vida dura para as pequenas, que, por serem menores e viverem em comunidades menos numerosas, vêm perdendo a batalha e até correm risco de extinção.

Tudo bem, você achou isso tudo muito bonito, comovente até. Mas ainda não se convenceu. Pois saiba que ninguém menos que Alex Atala, o chef brasileiro mais festejado da paróquia, é um dos defensores da popularização do mel de abelhas nativas. Esta é uma das bandeiras do Atá, instituto que Alex fundou em parceria com outras figuras da cena gastronômica nacional para promover ingredientes, técnicas e saberes da cozinha brasileira, como foco em toda a cadeia de produção, da terra ao prato. Agora sim ficou chique, né?

Pois bem, voltei da aula de criação de abelhas cheia de ideias. Quero ter uma colmeia na minha varanda, discreta e silenciosa, e deixar as pequenas confortavelmente instaladas em uma caixa de madeira. Daqui a alguns meses, quem sabe, vou colher um tanto do precioso mel de jataí. Uma honra!

Fotos: Danilo Conti