Marrons, rosbife e a macedônia verde-limão

Marrons, rosbife e a macedônia verde-limão
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Por Rita Lobo - 24 de março de 2009


Desde o nascimento dos meus filhos, minhas viagens ficaram mais esparsas. Bem esparsas. Ou talvez antes eu viajasse muito. Mas acredito piamente que um dos segredos da vida é reconhecer a fase em que estamos vivendo. Filhos pequenos não combinam com longas viagens ao exterior. Por sorte, os filhos da minha amiga L. já estão bem crescidinhos. Ela viaja bastante e me manda e-mails saborosíssimos. Essa semana está na Itália. É de lá que vêm as fotos dos marrons, ou melhor, marroni. Estou torcendo para que ela tenha comprado meia dúzia para mim. Por que outra razão ela me mostraria essas fotos? Para me dar inveja? Para deixar a amiga com água na boca? Não, não creio que ela faria isso comigo. Ela manda fotos, eu viajo com os e-mails dela e, no final, posso saborear um recuerdo da viagem. Se bem que tem fotos de queijos, presunto... Ela ficaria detida na alfândega se trouxesse tudo isso. Mas não é para mim, seu delegado, é para a minha amiga Rita.

Voltando às crianças, ontem foi aniversário de seis anos da minha sobrinha. Ela contou para a minha mãe que a outra avó, mãe da minha cunhada, é muito rica. Minha mãe ficou curiosa e quis saber mais. Ela explicou: “Vovó Beth, você já viu a geladeira da vovó Maria Inês? É lotada de comida, cheia, ela é muito rica.”

Já na casa da minha mãe, comida é mais na medida. Ela não é de muita fartura. Não sabe cozinhar, não gosta de cozinha e, tenho a impressão, se pudesse, não entraria lá nem para pegar água. Mas isso é chute. No imaginário dela, não há prato mais complicado de fazer que rosbife. Por isso, quando a última cozinheira foi embora, ela correu para contratar outra que soubesse fazer o clássico assado inglês. A moça chegou para a entrevista e minha mãe só tinha uma pergunta: “Sabe fazer rosbife?” Aliviada, a candidata respondeu: “Sei.” Pronto. Foi contratada. Começou no mesmo dia. Minha mãe avisou que tinha uma peça de filé mignon na geladeira e que o almoço deveria ser servido às 13 horas.

No horário combinado, minha mãe sentou à mesa, e a cozinheira trouxe duas travessas: uma de bife, outra de arroz. Minha mãe, então, perguntou: “Mas cadê o rosbife?” Com a maior naturalidade, ela respondeu: “Ué, tá qui o roz e o bife.” Certo, roz-bife.

Esse post está parecendo livro infantil de piada. Aliás, uma das leituras favoritas do meu filho. Então, para terminar, mais uma historinha verídica. Antes de viajar, minha amiga L. foi jantar na casa de outra amiga. Acho que eram três casais. A anfitriã não é muito de cozinhar, então, resolveu se aconselhar com um antigo livro de receitas, o único da casa. Foi de lá que tirou a sobremesa, uma macedônia de frutas. “Hummm, parece simples”, deve ter pensado. “É só picar, misturar um licor e servir.” Primeiro o abacaxi, depois maçãs, bananas, uvas. Tudo que ela tinha na geladeira foi para a tigela. De frente para o móvel onde ficam as bebidas, ela finalmente achou um uso para aquele licor azul, que há anos estava esperando por uma oportunidade de mostrar todo o seu talento. Regou as frutas generosamente e levou à geladeira.

O jantar estava indo as mil maravilhas. Hora da sobremesa. Ela resolveu se certificar de que havia feito tudo certo e releu a receita. Notou que não tinha prestado atenção na última linha. “Sirva frito.” Nem passou pela cabeça dela que poderia ser um erro de digitação, que alguém tivesse deixado um t a mais. Sirva frio, talvez? Mas, não. Ela não titubeou. Rapidamente, regou com azeite a maior panela que achou, esperou esquentar bem e despejou de uma vez as frutas com o licor azul, que em alta temperatura ficou verde-limão. Ou algo assim. Infelizmente L. não tirou nenhuma foto. Acho que as crianças iriam gostar de uma salada de frutas verde-limão. Mas essa vou deixar para a cozinheira nova da minha mãe testar.