Lançamento: A comida baiana de Jorge Amado
Por Rita Lobo - 10 de outubro de 2014
Muito antes de receita ter virado coisa séria, objeto de estudo de costumes, uma ferramenta que deixa a vida mais saudável a saborosa, Paloma Jorge Amado já sabia de tudo. Há pouco mais de 20 anos, ela pensou em extrair da obra do pai, Jorge Amado, tudo o que os personagens tinham falado ou pensado sobre comida. O resultado da pesquisa virou um livro de culinária. Pois se dona Flor gostava de preparar moqueca de camarão, Paloma ia atrás da melhor receita de moqueca de camarão que se podia encontrar. Ficou no pé da Maria Eulina – que preparava os jantares na casa do Rio Vermelho –, dos dindos, Nancy e Carybé, e mesmo de dona Canô, que sabia a diferença entre uma receita que pode e uma que não pode ser preparada com leite de coco de vidrinho. Paloma pediu receitas aos amigos, aos familiares, aos conhecidos, vasculhou a Bahia.
Passados 20 anos, deu vontade de reeditar o livro. Foi aí que nos conhecemos. Quem acompanha o blog há algum tempo sabe que no ano passado lançamos um selo em parceria com a Companhia das Letras. E a Companhia publica toda a obra de Jorge Amado. Logo, publicar o livro com o Panelinha foi um caminho natural para Paloma.
Ela e eu nos encontramos, conversamos, trocamos ideias. Voltei animada com o novo projeto para o escritório. Juntei a equipe, estudamos o livro e começamos a trabalhar – e desse dia até hoje se passaram quase dois anos! Logo de cara vi que as receitas podiam ser separadas em duas categorias. A primeira, mais histórica, reuniria pratos importantes, porém com ingredientes difíceis de serem encontrados fora do território baiano. O segundo grupo seria formado por receitas mais práticas, que pudessem ser preparadas em qualquer lugar do país – e, se bobear, do mundo.
As receitas
Selecionamos, então, 60 preparações que passariam pelo método Panelinha. Isto é, mesmo já tendo sido testadas e publicadas anteriormente, passariam pelos nossos processos. Quando a gente diz que testou uma receita no Panelinha, não significa que ela foi preparada para ver se dá certo ou não. A gente testa para poder explicar exatamente cada um dos passos ao leitor. E também para avaliar, na prática, se existe algum atalho ou outra técnica que possa ser aplicada e facilite aquele preparo (essa etapa é a revisão técnica). E, claro, testamos para padronizar as medidas: usamos xícaras e colheres-padrão para que todo mundo consiga fazer a receita em casa. Outro ponto é a adaptação de ingredientes. Se for preciso, a gente altera uma coisa aqui, outra ali, para deixar a receita mais adequada ao objetivo. Às vezes, ela precisa ficar mais saudável, outras, mais prática. No caso do livro da Paloma, queríamos que as receitas baianas pudessem ser feitas em todo o país.
Já as receitas históricas ganharam um tratamento gráfico especial. Elas aparecem no livro com a redação original, mas impressas numa folha de caderno antigo, já amarelado pelo tempo. E a leitura é tão saborosa quanto são os pratos sugeridos! É tão lindo o jeito baiano de picar os temperos... Sabe como é? “Machuque a cebola e o alho”. Tudo é mais poético.
Muito além das receitas
A comida baiana da Paloma vai além das comidinhas. Ela gosta de observar o cotidiano, refletir, conversar. Dá para dizer que A comida baiana de Jorge Amado é um livro de costumes. E além dos textos deliciosos da Paloma, o livro tem citações dos trechos em que os personagens de Jorge Amado falam sobre cada prato apresentado. É riquíssimo! E precisávamos explorar isso no projeto gráfico.
Quando você folhear, vai ver que as páginas mudam, dependendo do tipo de conteúdo. Se a receita é histórica, está na folha de caderno; se passou pelo método Panelinha, tem fundo branco, uma fonte mais moderna e é acompanhada de foto; se o texto é uma citação, está aplicado sobre uma renda; se é um texto da Paloma, está sobre um fundo bege, plano. Que delicia foi editar esse livro!
Paloma escreve como se estivesse papeando com o leitor. Não dá para largar o texto no meio do caminho. Você quer continuar, quer saber mais. Por isso, um bate-papo com ela para lançar o livro em São Paulo parecia algo indispensável. Tem tudo a ver com o espírito da Paloma como autora, e como pessoa também. (Digo isso porque tem autor que gosta de papear, mas não fica à vontade para falar em público.) E, o mais importante, ela topou.
Veja no final do post a agenda de lançamentos de A comida baiana de Jorge Amado, de Paloma Jorge Amado.
Ah, as fotos
Como publisher do Panelinha, eu me envolvo em todas as etapas da edição dos livros. Mas na hora de produzir as fotos eu mergulho: as imagens brotam na minha cabeça! Conversei muito com a Paloma, até que não me restavam dúvidas: um livro de comida baiana tinha que ser claríssimo, como a roupa da baiana do acarajé, cheia de tons e de texturas. Assim, faríamos uma moldura para o colorido da comida, com seus avermelhados do dendê e pitadas de verde do coentro.
As louças são cheias de textura, as palhas são claras, até pintadas de branco; os fundos são de madeira branca, de mármore. Tem rendas, tules, muitos tons de branco. E todo o capricho da mulher baiana como inspiração. Acho que deu certo. Espero que você goste. E, se quiser, pode vir participar desse lançamento conosco!