Ingredientes de ano-novo
Por Rita Lobo - 30 de dezembro de 2007
Meu melhor amigo, Arthur, estava na praia, olhando para o mar, e aproveitou o momento de paz para me ligar e desejar um bom 2008. Eu também estava vendo o mar, mas de outra praia. Conversamos um pouquinho e, naturalmente, fizemos os nossos votos para o ano que vai começar: nos vermos mais. (Não é isso que os amigos desejam?)
Desligamos e fiquei com uma sensação de felicidade desproporcional à intenção do telefonema. Arthur e eu somos amigos há mais de uma década. Mas quando eu tinha 20 anos, ainda não sabia o valor de uma amizade sólida. É isso. Fiquei olhando para o pôr-do-sol do dia 30, feliz, pensando na vida e planejando a ceia de réveillon.
Minha amiga Mariana veio me buscar. Eu vou passar a virada do ano na minha casa, e ela vai comemorar na casa dela. Mas decidimos fazer as compras juntas. Fomos ao supermercado, sem lista na mão, para ver o que tinha de mais fresco.
No caminho, descrevi os pratos que pretendia fazer com cada um dos ingredientes típicos de ano-novo. Tender representa boa saúde, lentilha simboliza fortuna, peixe põe na mesa amor, uva é sorte e romã serve para nos dar esperança de que tudo isso venha com fartura. Ela deu risada e disse: “Você está nessa?”
E como, Mariana! Menos pelo poder dos ingredientes, confesso, mais pela força do pensamento. “O pensamento leva à palavra, a palavra leva às ações, as ações levam ao caráter e o caráter leva ao destino”, disse o rabino Nilton Bonder no shabat que antecedeu o último Rosh Hashaná, o ano-novo judaico.
E quem não come porco? E quem não gosta de peixe? E se não tiver romã no mercado? Pensando bem, cada um poderia decidir os ingredientes que melhor representam os próprios desejos.
Tem ingrediente que simbolize melhor saúde que quinoa? Mas para quem banana é sinônimo de saúde, por que não fazer a fruta assada ou caramelada para a primeira sobremesa do ano? Cenoura em rodelas poderiam fazer as vezes de moedas de ouro. E para quem gosta e pode, nada melhor que caviar para evocar fortuna! Chocolate poderia entrar na ceia em nome do amor. Ah, o amor... Qual era mesmo aquele drink do primeiro encontro? Champanhe fica para outras comemorações. Uma caipirinha de figo vai bem.
E uma canja de galinha, apenas um golinho, para lembrar que momentos difíceis são superados? Uma xicrinha com canja, à meia noite de 31 de dezembro, para começar o ano com sabedoria. E quem deseja paz? Seja mundial ou apenas no próprio coração? Qual o ingrediente da paz?
Esta foto, que eu recebi ilustrando um e-mail com votos de alegrias para 2008 de outro querido amigo, representa para ele o lugar mais zen visitado em 2007. Ele não conta exatamente onde é, mas deixa escapar que a foto foi feita no Japão. E que tal uma abóbora assada com missô ou shoyu para saborear o desejo por um ano mais zen? Abóbora poderia simbolizar o ingrediente da paz de espírito, a paz interior, que possibilita a paz ao nosso redor.
São tantas as possibilidades. A Mariana tem toda razão de não se prender à tradição. O importante é andar com fé, ou melhor, cozinhar com fé. Comer com fé. O que vale é o pensamento. Mas só para não perder o costume, eu vou de tender, peixe com uvas, salada de lentilhas e molho de romã. E champanhe para brindar!
Desligamos e fiquei com uma sensação de felicidade desproporcional à intenção do telefonema. Arthur e eu somos amigos há mais de uma década. Mas quando eu tinha 20 anos, ainda não sabia o valor de uma amizade sólida. É isso. Fiquei olhando para o pôr-do-sol do dia 30, feliz, pensando na vida e planejando a ceia de réveillon.
Minha amiga Mariana veio me buscar. Eu vou passar a virada do ano na minha casa, e ela vai comemorar na casa dela. Mas decidimos fazer as compras juntas. Fomos ao supermercado, sem lista na mão, para ver o que tinha de mais fresco.
No caminho, descrevi os pratos que pretendia fazer com cada um dos ingredientes típicos de ano-novo. Tender representa boa saúde, lentilha simboliza fortuna, peixe põe na mesa amor, uva é sorte e romã serve para nos dar esperança de que tudo isso venha com fartura. Ela deu risada e disse: “Você está nessa?”
E como, Mariana! Menos pelo poder dos ingredientes, confesso, mais pela força do pensamento. “O pensamento leva à palavra, a palavra leva às ações, as ações levam ao caráter e o caráter leva ao destino”, disse o rabino Nilton Bonder no shabat que antecedeu o último Rosh Hashaná, o ano-novo judaico.
E quem não come porco? E quem não gosta de peixe? E se não tiver romã no mercado? Pensando bem, cada um poderia decidir os ingredientes que melhor representam os próprios desejos.
Tem ingrediente que simbolize melhor saúde que quinoa? Mas para quem banana é sinônimo de saúde, por que não fazer a fruta assada ou caramelada para a primeira sobremesa do ano? Cenoura em rodelas poderiam fazer as vezes de moedas de ouro. E para quem gosta e pode, nada melhor que caviar para evocar fortuna! Chocolate poderia entrar na ceia em nome do amor. Ah, o amor... Qual era mesmo aquele drink do primeiro encontro? Champanhe fica para outras comemorações. Uma caipirinha de figo vai bem.
E uma canja de galinha, apenas um golinho, para lembrar que momentos difíceis são superados? Uma xicrinha com canja, à meia noite de 31 de dezembro, para começar o ano com sabedoria. E quem deseja paz? Seja mundial ou apenas no próprio coração? Qual o ingrediente da paz?
Esta foto, que eu recebi ilustrando um e-mail com votos de alegrias para 2008 de outro querido amigo, representa para ele o lugar mais zen visitado em 2007. Ele não conta exatamente onde é, mas deixa escapar que a foto foi feita no Japão. E que tal uma abóbora assada com missô ou shoyu para saborear o desejo por um ano mais zen? Abóbora poderia simbolizar o ingrediente da paz de espírito, a paz interior, que possibilita a paz ao nosso redor.
São tantas as possibilidades. A Mariana tem toda razão de não se prender à tradição. O importante é andar com fé, ou melhor, cozinhar com fé. Comer com fé. O que vale é o pensamento. Mas só para não perder o costume, eu vou de tender, peixe com uvas, salada de lentilhas e molho de romã. E champanhe para brindar!