Humor lunar

Humor lunar
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Por Rita Lobo - 25 de janeiro de 2009


Não quero me gabar, mas parece que meu humor voltou ao normal. Foram necessárias umas 50 gotas de vitaminas do complexo B, dois comprimidos de vitamina C efervescente, duas caipiroscas de lima, uma codorna assada, risoto, um ravioloni com trufas, espetinhos de polvo, sushis de vieira, ouriço, atum gordo e peixe serra, algumas taças de prosecco, outras de vinho tinto, uns tantos cafés e mais 20 minutos de rotex (acho que é esse o nome da máquina de exercícios que mói a pessoa após 5 minutos de uso), cerca de 3 horas de caminhada e um isotônico sabor morango e maracujá, tudo isso dividido em 48 horas. Ah, e a companhia de amigos queridos.

Então, sobre as vitaminas do complexo B, há alguns anos, um médico sugeriu que as crianças e eu tomássemos antes de irmos para a praia, pois funciona como repelente. Passamos a semana rodeados por borrachudos, pernilongos e voltamos sem nenhuma picada. Um sucesso. Notei também que, além de descansada, e sem picadas, eu fiquei mais animadinha, bem-humorada. Associei o humor à ingestão da vitamina, que de fato é um antidepressivo natural. Pronto. Fiz o que ninguém deve fazer e me auto-receitei umas gotas para curar o tédio que me corroia e, certamente, me prenderia ao edredon no fim de semana. (Meus filhos estão viajando e a fase do como-é-bom-um-tempo-só-pra-mim já passou e estou com o saco na lua! Fina, né?)

Agora a codorna, que não foi só uma codorna. Jean é meu amigo de longa data. Dizem que é o meu melhor amigo, o favorito, mas não é verdade: apenas temos mais afinidade. Pelo menos gastronômica. Saímos para jantar. Éramos um grupo. (Somos um grupo.) Cada um pediu o que quis, e eu, além de mal-humorada, estava com preguiça de olhar o cardápio. Jean, gentilmente, fez o pedido. Eis que chega à mesa um prato com os melhores sushis que já comi naquele restaurante: peixe serra servido com uma misturinha de gengibre ralado e cebolinha picada, vieira com limão siciliano e sal grosso, uni (ouriço) e toro (atum gordo). Eu mesma nunca tinha feito um pedido tão bom no Kosushi. É de afastar qualquer mau humor.

No dia seguinte, lá fomos nós ao Due Cuochi. Apesar de já estar com o humor melhorado, não tive a oportunidade de olhar o menu. Nem pisquei e minha amiga Flavia já tinha pedido prosecco para mim. Uma gentlewoman. Já eu, em vez de fazer a fina, mandei brasa no antepasto: focaccia de abobrinha, pão de lingüiça, tapenade, mussarela de búfala, lascas de parmesão...

A entrada era o ravioloni de espinafre com uma gema de ovo crua no meio que, na primeira garfada, escorre e se mistura ao sabor da trufa. Depois, a codorna. Desossada, recheada, assada e servida com risoto. Raspei o prato principal, ra-pei. Nem queijo nem doce para sobremesa. “Só vamos terminar o vinho, obrigada.”

Antes do fim de semana terminar, uma passadinha no Adega Santiago. Até hoje, tudo que comi lá estava bom. E os espetinhos de polvo e lula não foram exceção. Espetadas, como eles chamam. Mais tostadas, caipiroscas e quilos na minha balança. Que nada! Às vezes, o descontrole leva ao descontrole.

Eu como de tudo, mas como pouco. Comi muito. Fiquei me sentindo pesadona. Resolvi sair para caminhar. Três horas depois, cheguei ao clube. Estava nova. Revigorada. Um isotônico e, pela primeira vez, senti um súbito desejo de usar aquela máquina que simula passos na escada, se a escada fosse na lua. Subi descontroladamente, passo após passo, até sentir a cabeça na lua, pensamentos soltos, mente leve, aberta.

Sabe que eu gostei? Sem dúvida manda o mau humor para o espaço. Se acordar em condições, amanhã vou fazer de novo. Vou começar a semana fazendo ginástica. Amanhã as crianças voltam. E a vida volta ao normal. Escola, trabalho, refeições caseiras sempre, uma codorna de vez em quando, vinho tinto quando possível. E, quem sabe, subir a escada lunar para elevar o humor e não pesar na balança.