Frescor eterno

Frescor eterno
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Por Rita Lobo - 24 de outubro de 2012


A foto que ilustra este post foi escolhida em função do título de um e-mail que uma querida amiga me enviou. Acho que as folhas representam bem o frescor de que todos nós precisamos — e não só na alimentação. M. não mora na mesma cidade que eu, e a nossa comunicação nos últimos anos tem sido por correspondência. Mas a foto não tem nada a ver com o assunto de hoje. Minha amiga M. começa a conversa assim: “Só hoje me dei conta de mais uma virtude sua: você é incansável! É incrível a sua energia para reinventar o prazer que sente pelo que faz. Lendo o post sobre a nova edição do Cozinha de Estar, fiquei me perguntando se em algum momento você fica de saco cheio de tudo isso! Que delícia sentir o seu entusiasmo.”

Aqui entre nós, sei que ela tem essa impressão de mim porque não estamos nos falando no dia a dia e acabamos nos encontrando uma vez por ano — e olhe lá. Por outro lado, também me reconheço como uma pessoa entusiasmada e que gosta muito do que faz. São pequenos detalhes. Mas fico animadíssima, por exemplo, quando a Priscila, que faz a produção de objetos do Panelinha, chega com louças e talheres novos para eu montar uma foto. Ela diz que eu pareço criança. E fico feito boba admirando a beleza de um guardanapo de linho. Faço até carinho num pedaço de tecido, bem tonta, mesmo.

Acontece que, nesses mais de 10 anos, o Panelinha cresceu bastante. E eu tive que ir aprendendo a administrar o negócio. Tive, não, eu quis. Eu gosto dessa parte do trabalho também. Mas, às vezes, querida amiga, enche o saco. Nem tudo são lindos guardanapos de linho. Só que, aqui no blog, eu não vou ficar me queixando das coisas. Por isso você fica com a impressão de que eu sou incansável.

Recentemente eu caí de cama. Sabe aquelas enfermidades que derrubam a gente? O médico me perguntou onde estava doendo: pés, tornozelos, batatas, joelhos, coxas, quadril, lombar, ai, a lombar... Costas, peito, pescoço... e cabeça. Fora isso, tudo bem. Foram dez dias na cama. Daquele jeito que até levantar para tomar água é uma missão. Tive até que cancelar duas gravações do programa. Mas quem é que vai querer saber disso?

Por isso, e só por isso, tudo olhado de fora parece tão simples, tão prático, tão lindo. É nada! Todos temos as nossas limitações, dificuldades, dilemas, cometemos erros que saem uma nota... Mas, ao que tudo indica, a vida é isso aí.

Uma vez ouvi uma frase muito boa: quem não melhora, piora. Não é incrível? Vale errar, mas tem que melhorar! E é a pura verdade. Se não se ocupam de crescer, aprender, melhorar, as pessoas pioram.

Voltando a sua mensagem, querida amiga, li atentamente cada palavra. Pensei muito em você. E me senti privilegiada. Mas não por poder ficar feliz com a variedade de guardanapos de linho que tenho à disposição para fazer as minhas produções. A minha felicidade é com o leitor que me escreve só para dizer que, graças ao bolo de limão que deu certo, descobriu que podia deixar a casa com jeitinho de lar. Ou quando as pessoas me marcam no Instagram, para que eu veja que elas estão fazendo as minhas receitas. Ou um simples “eu fiz e amei esse prato” no Facebook. São as pessoas que fazem do meu trabalho uma fonte inesgotável de prazer. São os leitores que me proporcionam o tal frescor eterno que você, minha querida amiga, encontrou na minha relação com o trabalho.

Há uns meses, uns amigos vieram jantar em casa, quase todos jornalistas. E, entre eles, ter que editar a coluna de receitas de uma jornal é dos trabalhos mais mixos que pode haver. O obituário é mais bacana. Pois acredita que eu me sinto importantíssima escrevendo receitas? Fico me achando por saber que tantas pessoas aprenderam a cozinha com o Panelinha. Cada um tem o seu caminho. Mas não dá para deixar de ver que todos fazemos parte uns da vida dos outros.

Acho que era isso, minha amiga M., que eu queria te dizer. Preste atenção nas pessoas, nos seus clientes. Olhe de pertinho a sua evolução, mas cuide também do crescimento dos seus funcionários. Acho que parte do segredo é esse. Muita saudade de você, querida. Espero que a gente possa se encontrar logo. Beijos para a sua filhota. E, quando falar com a sua avó, mande beijos para ela também. Quem sabe até o fim do ano consigo marcar um café com ela?!

Foto: Gilberto Oliveira Jr