Doces da Tunísia
Por Rita Lobo - 24 de outubro de 2010
Do outro lado da rua, o tom da pequena loja chama a minha atenção. Azul-calcinha dos pés a cabeça. Apesar da cor, nada de lingerie à venda – já notou como as francesas amam comprar soutien? No balcão, outro tipo de prazer. Várias bandejas de doces quase rendados de tão delicados. São lindíssimos, e eu fico boquiaberta. Não me lembro de ter visto antes tanta preciosidade em forma de doce. O simpático vendedor puxa conversa diante da freguesa tão maravilhada. Ele conta que os doces são tunisianos e que chegam diariamente de avião.
Do lado de cá do computador, às vezes me pego começando de onde parei, sem lembrar de relembrar que há cinco posts prometi contar mais sobre Paris. Aí penso no sujeito que caiu aqui meio sem querer e que deve estar se sentindo um peixe fora d’água. Bem, caso seja o seu caso, pense que a água é a do rio Sena. É perto dele que fica a loja aí ao lado.
Percebo que, apesar dos doces, não se trata de uma doceira: nem água nem café para acompanhar. É para comprar e levar. Então, peço ao vendedor para descrever cada um deles. Jasmim, pistache, amêndoas, rosas, pinoles, mil e uma variações sobre o mesmo tema. Um tema que é dos meus favoritos. Mesmo assim, não reconheço quase nada. Um ou outro baklawa. Como escolher? Arrisco e peço para provar vários deles ali mesmo. Escolho uma dúzia e descubro a cada mordida que eles são lindos por fora e por dentro. Quase sem açúcar. Na medida. Por isso, também, não devem fazer muito sucesso para o paladar brasileiro, tão habituado ao doce bem doce da confeitaria portuguesa, das nossas compotas, dos pés-de-moleque, brigadeiros e beijinhos.
Imagine um marzipã de pistache, com pouco açúcar, quase nada para bem dizer; agora espete pinolis e mais pistache no marzipã; coloque na boca, mastigue, e sinta a textura macia e aveludada da massa contrastando com o crocante das nozes. Gostou? Pois eu adorei. Mas, em casa, não fez tanto sucesso, o que pode ser bom para todos. Sobra mais para mim e, de todo modo, por ora, você só pode comer com os olhos. Mas se estiver em Paris, passe na Masmoudi, “fina confeitaria de Sfax”, no 106 do boulevard Saint Germain.