Doce de Natal

Doce de Natal
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Por Rita Lobo - 22 de dezembro de 2008


Tenho uma grande amiga que, por osmose, está ficando parecida comigo. Ou eu com ela, não sei bem. Sempre perguntam se somos irmãs. Respondo que sim, só que de pai e mãe diferentes. Este ano, vamos comemorar o Natal juntas, na minha casa. A família dela e a minha. Nossos filhos são amigos, e nossos pais também. Mas não somos uma família, e isso vai deixar o Natal mais animadinho. Eu sei, eu sei, o certo é dizer que a família se basta, noite feliz e tudo mais, porém, na minha opinião, qualquer festa fica melhor com amigos.

Comprei um tender com osso, um tender bolinha, um peru inteiro e um peito de peru. Este último é para fazer uma experiência: assar na mesma assadeira que o peru e cobrir com bacon para não ressecar; vamos ver se assim o peito toma jeito, ou melhor, gosto. Comprei um pouco a mais de tudo, pois o almoço do dia 25 também vai ser em casa. Com as sobras da noite anterior, que fique claro. Não estou tão animada assim com o Natal.

A ceia está decidida. Peru, tender, chutney de abacaxi, arroz basmati com leite de coco, farofa de milho e salada de castanhas portuguesas. A questão agora são os presentes. Por sorte, ninguém teve tempo de fazer compras. Por sorte porque resolvemos que só as crianças vão ter vez; é para elas que comemoramos o Natal. Assim não fica aquela obrigação de fazer cara de que adorou o par de meias, que estava precisando mesmo de um pijaminha novo (no meu caso, até que seria verdade). E a gente investe nas bebidas; tem coisa pior que festa com vinho ruim? Eu não gosto. Aliás, acaba de me ocorrer uma idéia: como minha mãe vai ficar arrasada com a política de não-presentes para adultos, vou dizer que ela pode presentear com vinhos (que serão obrigatoriamente consumidos na noite). Ótimo, está resolvido.

Aí tem a questão das copeiras. Sabe quanto elas cobram para trabalhar no Natal? Mais que um salário mínimo. Eu vou cozinhar. Estou dispensada de tirar a mesa. E me recuso a pagar essa fortuna. Escolhi meu presente de Natal: quero que Papai Noel tire a mesa e lave a louça. Só isso. Não. E seque também. Lembra que tem almoço no dia seguinte?

De uns anos para cá, para mim, Natal tem gosto de tâmaras. É uma das minhas sobremesas favoritas. Sabe aquelas tâmaras moles que só chegam ao mercado essa época do ano? Não precisa fazer nada. Nem lavar nem descascar nem cozinhar. São divinas. Como duas ou três e não troco por nada. Troco sim. Lembrei de uns doces que ganhei. Sabe aqueles docinhos árabes? Pois é, não tem nada a ver com eles. Tem a mesma cara, o mesmo nome, mas é algo completamente diferente. (Pensei neles, obviamente, por causa das tâmaras, que também são típicas do oriente médio.) O nome da marca é Semiramis. São feitos em Damascos, na Síria, e vêm embalados grudadinhos um no outro numa caixa com uma rosa vermelha. Não sei se tem à venda no Brasil. Ganhei de um restaurateur. São verdadeiras jóias, delicados, não são doces como os que conhecemos por aqui. São crocantes na mordida e desmancham na boca. Sabor de manteiga boa. O ninho de pistache é emocionante. Acho que foram os melhores doces que comi em 2008. Acho não, foram. Mas acabou. Não sobrou nada, nem um fiozinho para o Natal. Tudo bem. Ceia não combina com doce árabe. Deixa o doce guardado na memória e bola para frente que a torta de nozes já está no forno.