Descafeinada
Por Rita Lobo - 28 de novembro de 2007
Ontem fui tomada por um estranho pensamento. Vou parar de tomar café. Era cedo, eu ainda estava no banho. Enquanto esfregava a cabeça com shampoo, tentava entender de onde vinha aquele estranho desejo às avessas. Eu adoro café. Tomo uns cinco por dia. Pode ser cappuccino. Ou latte. Uma vez fui passar um fim de semana na casa de uns amigos que não tomam café: passei dois dias dormindo de olhos abertos. Lesada. Foi quando descobri que este não é apenas um gosto, mas um vício.
Eu preciso de café. Mas depois do banho, o pensamento continuava tão forte que se tornou uma certeza. Um pensamento que nem me consultou, me invadiu e decidiu que eu iria abrir mão do meu único vício. Até pensei em uma despedida, um último cafezinho da manhã, mas não tive coragem. Tomei chá, um chá incrível: green tea and blackcurrant, da London Fruit & Herb Company (isto é, chá verde com groselha). Sem cafeína.
Apesar de mim, a decisão estava tomada. Mesmo assim, queria entender os motivos. E eu sei que não tem nada a ver com saúde. Está certo que esse tanto de café não faz bem a ninguém. E que, aparentemente, para mulheres, café é pior que para homens, que metabolizam cafeína mais facilmente.
Quando era mais jovem, passei uma longa temporada em Paris. Seis meses. Lá, desenvolvi uma teoria: café dá celulite. A cada expresso tomado, sentia uma nova celulite nascendo. Elas brotavam nas minhas pernas. Mas não tinha nada a ver com o café. Eram os anos se passando.
Fiquei pensando que, talvez, meu organismo precisasse de uma desintoxicação. Só podia ser isso. Acredito piamente que ele se expresse através de vontades. Não tem dias que a gente quer comer peixe e outros em que carne é a pedida?
Mas ainda não estava convencida. Outra possibilidade era um simples desejo de testar os meus limites. Viver sem café. Mesmo que por um curto período de tempo, apenas pelo prazer de saber que posso viver sem ele. Acho que é isso.
Ontem não tomei café. Hoje também não. Fiquei sonolenta. Mas à noite dormi feito uma pedra, coisa que há muito tempo não acontecia. Prometo que não vou transformar o blog no diário de uma ex-viciada em cafeína. Em tempo: descobri um bolo de chocolate que dispensa cafezinho. Não é o “Melhor Bolo de Chocolate do Mundo”. Será que nem me livrei de um vício e já criei outro?