Croquete, empadinha e cajuzinho

Croquete, empadinha e cajuzinho
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Por Rita Lobo - 11 de agosto de 2008


Era o ano de 1995 quando ganhei da minha mãe Não é Sopa, de Nina Horta. Não por acaso, foi o ano em que o livro foi lançado. Por acaso, foi também o ano em que me formei em gastronomia. Para mim, o livro foi uma revelação: descobri o que eu queria ser-quando-crescer: queria ser a Nina Horta. Mas isso não dá. É pedir demais. Então, decidi que escrever sobre comida seria suficiente.

Logo em seguida, por um desses acasos da vida, passei a escrever para a Revista da Folha e, esporadicamente, para o jornal também. Quer dizer, não foi bem um acaso, foi graças ao meu amigo Matinas Suzuki Jr., por intermédio do Mário Vitor Santos, então editor da Revista. A Nina era colunista do jornal. E acho que, por isso, um dia nos conhecemos. Ela foi mais que simpática, papeou, papeou, e parecia inquieta com uma pergunta. Uma hora ela não resistiu e perguntou: “O que uma moça tão bonita quer fazer na cozinha?” Respondi em pensamento: fique tranqüila, beleza passa. Depois fomos almoçar, nos encontramos aqui e ali e, nos últimos 12 anos, devo tê-la encontrado uma dezena de vezes. No máximo.

Vira e mexe eu mando um oizinho daqui, e ela manda um oizinho de lá. Na semana passada, Nina veio almoçar na minha casa. Uma amiga em comum está tentando nos juntar num projeto que nenhuma das duas tem tempo de fazer, mas a gente vai dar um jeito. No meu caso, claro, só para poder estar mais perto dela.

A amiga em questão é do tipo que passa trote, como eu, aliás. Uma vive tentando pegar a outra. Ela se chama Letícia. Imagine uma gargalhada. Agora transforme essa gargalhada numa pessoa. Pronto, essa é a Letícia. Quando marcamos o almoço, ela me perguntou se precisava levar alguma coisa. Disse fazendo voz e sotaque de italiana do Brás: “quer que eu leve uma bandeja de empadinha ou de croquete?”. E eu respondi: “faz assim, ó: você traz as empadinha e manda a Nina trazer os croquete, mas avisa que eu não tô mais comendo fritura, então os croquete têm de ser assado. Os cajuzinho é por minha conta, tá?”

No dia do almoço, as duas chegaram em casa, não pontualmente, porque isso em São Paulo não existe mais. Nina chegou se desculpando que não deu para trazer os “croquete”, mas trouxe um maço de neen arrancado do jardim da casa dela. Neen é o segredo do brilho dos cabelos de Nina. Eles reluzem. Depois contou que a secretária passou a semana ligando para lembrá-la do diacho da bandeja e que, por mais que ela dissesse que era uma brincadeira, a secretária não acreditava. Dessa vez, quem caiu foi a secretária da Nina, coitadinha!

Passamos o almoço falando de absolutamente tudo, menos do projeto. Marcamos outro encontro. Ou vai ser na casa da Nina ou da Letícia, que tem uma mesa de pingue-pongue em lugar de mesa de jantar. Estou tão ansiosa que já estou até preparando as “coxinha” para o almoço. E vou me esforçar para chegar na hora.