Cozinhe para o futuro

Cozinhe para o futuro
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Por Rita Lobo - 14 de agosto de 2019


O que é comida com memória para você? Macarronada da avó? Bolo da mãe? Uma canja, talvez? Para mim, uma gemada bem clarinha transporta até o café da manhã dominical da infância. Era a comida que minha mãe, que não cozinhava no dia a dia, preparava para mim e meus irmãos.

Comida e afeto têm uma ligação profunda. E a indústria de ultraprocessados – aqueles produtos que imitam comida de verdade –, inclusive, sabe muito bem disso. Não por acaso, palavras como carinho, amor, felicidade e alegria são usadas nas campanhas publicitárias. A estratégia é não deixar o consumidor associar os ultraprocessados à obesidade e a todas as doenças correlacionadas, como diabetes e câncer. Repare: o suco com “muita fruta, água e carinho”, “o tempero do amor”, o refrigerante que é feito na “fábrica da felicidade”. E por aí vai.


Há pouco tempo, uma pesquisa revelou um dado bastante preocupante: a memória afetiva de uma parte grande dos jovens em relação à comida é ligada a marcas.


Sempre falo sobre os danos que os produtos ultraprocessados causam diretamente à saúde. Mas o fato é que o estrago vai além do aspecto físico. Os ultraprocessados corrompem a cultura alimentar e tudo o que ela envolve — e isso não é pouca coisa.

Uma refeição com comida de verdade traz mais do que uma porção balanceada de nutrientes. Comer arroz com feijão tem a ver com a nossa história, nos lembra de onde viemos, reforça as nossas origens. Isso é especialmente rico num país de imigrantes como o nosso. Não seria uma tristeza um jovem de origem libanesa que só conhecesse comida árabe de fast food?

Os ultraprocessados são pensados para que o consumo aconteça da forma mais prática e rápida possível, em qualquer lugar: na mesa de trabalho, andando na rua ou com o celular na mão. Essa cultura do junk food foi nos fazendo abrir mão de algo que nos humaniza. Há séculos os seres humanos compartilham as refeições. O jantar em família, à mesa, vai muito além de alimentar apenas o corpo.

O caminho para não perdermos as nossas raízes – sejam elas nordestinas, espanholas, japonesas, judaicas, árabes, francesas, cariocas ou mineiras – passa pela cozinha de casa. Precisamos celebrar nossas memórias gastronômicas e garantir que as próximas gerações também tenham boas lembranças à mesa.

Quais são as suas memórias de infância à mesa? A temporada de Receitas com Memórias, que é uma das minhas favoritas, está em reprise às quartas-feiras no Cozinha Prática no GNT.

Para estimular você a entrar na cozinha e preparar receitas cheias de história, reuni em uma página todas as preparações da temporada Receitas com Memórias. Mas, claro, você pode começar suas tradições a qualquer momento. Toda receita que você preparar repetidamente vai virar comida com memória no futuro. E esse futuro é bem mais saboroso do que as lembranças ligadas às marcas.

Confira todas as preparações da temporada Receitas com Memórias