Conforte-me com batatas
Por Rita Lobo - 21 de novembro de 2007
Cozinhar na praia é diferente. Os tempos são outros. O da gente, e o da comida. A água custa a ferver. Mas a gente nem percebe, não fica vigiando. Uma hora ela ferve. O vaivém das ondas influi na nossa percepção das horas. E a altitude altera os tempos de cozimento dos ingredientes.
No fim de tarde, véspera do feriado, Fernanda e eu fizemos o cardápio para a viagem. Maridos, filhos, babás e nós, as mulheres, cozinheiras. Tinha que ter comida para todo mundo, claro. Mas o objetivo era aproveitar a perspectiva de chuva para fazer da comida o nosso programa.
A Fernanda, além de minha amiga, daquelas que as nossas avós diriam, fulana é amiga íntima de beltrana, é também assessora de imprensa do Panelinha. Nós trabalhamos no mesmo escritório, nossos filhos estudam na mesma escola, freqüentamos o mesmo clube e ainda sobra assunto para falar no fim de semana. A modéstia dela a impede de contar por aí que fez curso de confeitaria em Nova York. Aliás, na mesma escola que eu, mas em outros tempos.
Fizemos uma espécie de planilha, bem rabiscada, com os pratos que faríamos em cada almoço e jantar. Tínhamos que pensar em sete refeições, mais café da manhã e lanchinhos da tarde, e sair correndo do escritório para o supermercado. (Ele fecha aos domingos e feriados.)
Risoto, que é rapidinho de fazer e não dá trabalho, foi escolhido para ser a primeira refeição. Resolvemos preparar um de limão e servir com fatias de salmão defumado. Endro é par perfeito para salmão, e a erva-doce é da família do endro. Deu vontade de completar o prato com erva-doce assada. Nunca tinha feito. Ficou bom. Bem bom. A erva-doce, cortada em quatro partes no sentido do comprimento, assou por quase 1 hora, temperada com um pouco de azeite e sal. Uns 10 minutos antes de sair do forno ganhou um banho de suco de laranja. Escandalosamente bom. Caramelado. Em tempo: as variações de temperatura, salmão frio, risoto e erva-doce quentes, também deram um certo charme ao prato.
Fernanda faz rosbife como ninguém. É uma receita da avó dela. Entrou no cardápio. Foi o almoço do domingo. Ela polvilha um pouco de açúcar na carne. E os outros truques não estou autorizada a contar. Eu preparei as batatas e um molho bem gordo com creme de leite, mostarda de Dijon e geléia de laranja com gengibre. E também uma saladinha que, para dizer a verdade, nasce pronta: tomate-cereja em metades e pepino em rodelas. Para temperar, sal, limão e azeite. Mas é das batatas que eu preciso falar.
Tinha me esquecido de como eu gosto delas. Confortam-me muito mais do que maçãs. Para mim, porém, batatas boas são aquelas que mais um pouco, queimavam. Precisam ficar bem douradas, crocantes e não importa se são fritas, assadas ou salteadas. Ou então prefiro fazer um bom purê. As do feriado levaram umas 2 horas para ficar do jeito que eu queria. Eram dez batatas médias que, depois de bem lavadas, foram para a panela com água salgada, como se fosse do mar.
Até a água começar a ferver nem sei quanto tempo se passou. Deu para tomar uma taça de vinho branco, contar uma história inteira sobre uma outra amiga nossa e só depois a água começou a borbulhar. Mas acho que ela estava esperando o fim do causo. Demorou tanto que as batatas já estavam pré-cozidas.
Na tábua, foram cortadas em quatro partes no sentido do comprimento. Enquanto isso, uma frigideira gigante (na verdade uma panela para fazer paella) esquentava com um pouco de azeite. Eu sei, o certo é usar óleo, mas fim de semana pode. Ele perde o valor nutricional, mas a comida ganha em sabor. Com a casca para baixo, as batatas começaram a dourar. Depois, vira para cá, vira para lá e elas saltearam de todos os lados. À medida que ficavam prontas, eram arrumadas em outra frigideira, a de ferro pintado de branco, que vai sem fazer feio à mesa. Mas as batatas ainda não estavam prontas. Faltavam uns 20 ou 30 minutos no forno para dourar mais um pouquinho. Um tempo que, no dia-a-dia, nunca dá para esperar. Mas na praia o tempo é outro. E o tempo é um pequeno luxo culinário que transforma simples batatas em pratos que fazem o tempo parar.
No fim de tarde, véspera do feriado, Fernanda e eu fizemos o cardápio para a viagem. Maridos, filhos, babás e nós, as mulheres, cozinheiras. Tinha que ter comida para todo mundo, claro. Mas o objetivo era aproveitar a perspectiva de chuva para fazer da comida o nosso programa.
A Fernanda, além de minha amiga, daquelas que as nossas avós diriam, fulana é amiga íntima de beltrana, é também assessora de imprensa do Panelinha. Nós trabalhamos no mesmo escritório, nossos filhos estudam na mesma escola, freqüentamos o mesmo clube e ainda sobra assunto para falar no fim de semana. A modéstia dela a impede de contar por aí que fez curso de confeitaria em Nova York. Aliás, na mesma escola que eu, mas em outros tempos.
Fizemos uma espécie de planilha, bem rabiscada, com os pratos que faríamos em cada almoço e jantar. Tínhamos que pensar em sete refeições, mais café da manhã e lanchinhos da tarde, e sair correndo do escritório para o supermercado. (Ele fecha aos domingos e feriados.)
Risoto, que é rapidinho de fazer e não dá trabalho, foi escolhido para ser a primeira refeição. Resolvemos preparar um de limão e servir com fatias de salmão defumado. Endro é par perfeito para salmão, e a erva-doce é da família do endro. Deu vontade de completar o prato com erva-doce assada. Nunca tinha feito. Ficou bom. Bem bom. A erva-doce, cortada em quatro partes no sentido do comprimento, assou por quase 1 hora, temperada com um pouco de azeite e sal. Uns 10 minutos antes de sair do forno ganhou um banho de suco de laranja. Escandalosamente bom. Caramelado. Em tempo: as variações de temperatura, salmão frio, risoto e erva-doce quentes, também deram um certo charme ao prato.
Fernanda faz rosbife como ninguém. É uma receita da avó dela. Entrou no cardápio. Foi o almoço do domingo. Ela polvilha um pouco de açúcar na carne. E os outros truques não estou autorizada a contar. Eu preparei as batatas e um molho bem gordo com creme de leite, mostarda de Dijon e geléia de laranja com gengibre. E também uma saladinha que, para dizer a verdade, nasce pronta: tomate-cereja em metades e pepino em rodelas. Para temperar, sal, limão e azeite. Mas é das batatas que eu preciso falar.
Tinha me esquecido de como eu gosto delas. Confortam-me muito mais do que maçãs. Para mim, porém, batatas boas são aquelas que mais um pouco, queimavam. Precisam ficar bem douradas, crocantes e não importa se são fritas, assadas ou salteadas. Ou então prefiro fazer um bom purê. As do feriado levaram umas 2 horas para ficar do jeito que eu queria. Eram dez batatas médias que, depois de bem lavadas, foram para a panela com água salgada, como se fosse do mar.
Até a água começar a ferver nem sei quanto tempo se passou. Deu para tomar uma taça de vinho branco, contar uma história inteira sobre uma outra amiga nossa e só depois a água começou a borbulhar. Mas acho que ela estava esperando o fim do causo. Demorou tanto que as batatas já estavam pré-cozidas.
Na tábua, foram cortadas em quatro partes no sentido do comprimento. Enquanto isso, uma frigideira gigante (na verdade uma panela para fazer paella) esquentava com um pouco de azeite. Eu sei, o certo é usar óleo, mas fim de semana pode. Ele perde o valor nutricional, mas a comida ganha em sabor. Com a casca para baixo, as batatas começaram a dourar. Depois, vira para cá, vira para lá e elas saltearam de todos os lados. À medida que ficavam prontas, eram arrumadas em outra frigideira, a de ferro pintado de branco, que vai sem fazer feio à mesa. Mas as batatas ainda não estavam prontas. Faltavam uns 20 ou 30 minutos no forno para dourar mais um pouquinho. Um tempo que, no dia-a-dia, nunca dá para esperar. Mas na praia o tempo é outro. E o tempo é um pequeno luxo culinário que transforma simples batatas em pratos que fazem o tempo parar.