Break

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Por Rita Lobo - 03 de março de 2008


Uns dias antes da minha viagem de férias ao Atacama, a mãe de um coleguinha do meu filho, na porta da escola, me disse que queria ter um trabalho como o meu.

Fiquei imaginado que ela estava querendo dizer que também gostava de comida (de cozinhar, de comer, de pesquisar, de falar, de escrever...). Mas antes que eu tivesse tempo de concluir o que, exatamente, no meu trabalho ela gostava, a moça foi logo dizendo: “Eu também queria ter um trabalho que não precisasse trabalhar muito”. Na hora, ou melhor, às 7 horas da manhã, não entendi muito bem, dei um sorrisinho e me despedi.

Pensei comigo mesma: Mas será que ela acha que o Panelinha brotou de uma árvore? Ou que as receitas surgiram como num passe de mágica? Na cabeça dela, os livros e e-livros devem ficam prontos num piscar de olhos. Os blogs, então, pulam para dentro do site! Sem falar nos projetos comerciais, nos anunciantes, nas parcerias, nos contratos de patrocínio... Ela deve imaginar que sejam firmados num papo na fila do supermercado.

Fui tomar o meu café e a imagem dela ficou me perturbando. Comecei a sentir um pouco de raiva. Raivinha. Tá bom, fiquei irritadíssima. Será que, por me ver diariamente na porta da escola, ela acha que eu não trabalho muito? Ou será que para ela “essa coisa de internet” é muito fácil? Já sei: culinária é “coisa de mulher” e, por isso, não dá trabalho. Vai saber.

Mentalmente, fiquei dando uma série de respostinhas para ela. Só para você saber, não é por acaso que o meu escritório, o meu estúdio, a escola dos meus filhos e a minha casa ficam no mesmo bairro. É por isso, minha senhora, que posso levar e buscar as crianças e almoçar com elas todos os dias. Mais tarde, já em casa, eu ainda resmungava em silêncio, eu nunca consigo voltar para casa antes das 19 horas, e quando as crianças vão dormir, eu volto para o computador!

Durante a viagem, confesso que nem lembrei da mãe do coleguinha do meu filho. Mas foi só eu chegar que dei de cara com ela na escola, já toda arrumada para o trabalho. Depois de uns dias de férias, dei risada de mim mesma pensando que, de um jeito meio sem jeito, ela estava tentando fazer um elogio. Talvez quisesse dizer que, no site, tudo parece tão fácil que não deve dar muito trabalho para fazer. Não sei o que ela faz, mas imagino que, como eu, ela também tenha uma rotina puxada.

A verdade é que, para nós, mulheres, mães, que trabalham, em casa ou fora, sobra pouco tempo. E não estou falando de ir ao cabeleireiro ou de fazer massagem. É tempo para não fazer nada, sem ter que se preocupar com o que vai ter para o jantar, tempo para pensar, para deixar a mente ousar outras soluções. É tempo para dormir, passar o dia na piscina, relaxar o corpo, ou cansá-lo num longo passeio de bicicleta pelo parque, numa caminhada sem destino ou atravessando um deserto a cavalo.

Cada vez mais, acredito que todas as mulheres, vez ou outra, deveriam tirar umas férias de tudo. Trabalho, claro, mas filhos e maridos também. Férias com uma amiga, ou com um grupo de amigas. Mesmo que seja apenas por um fim de semana.

Gostaria de pensar que este fosse o intuito do Dia Internacional da Mulher: um dia para nos lembrarmos que temos que cuidar de nós mesmas.

Esta semana, a mãe do coleguinha do meu filho vai amar a programação do Panelinha. A pauta é valorizar os momentos que dedicamos a nós mesmas.