Botões, lágrimas e caviar
Por Rita Lobo - 26 de janeiro de 2009
Há uns tempos, fui viajar com uma amiga e no vôo (agora é voo, né?) havia um extenso menu de filmes. Ela selecionou um, eu demorei um pouquinho para escolher; quando virei para o lado, para perguntar o nome do filme que ela estava assistindo, me deparei com a pessoa aos prantos. De chacoalhar o corpo na poltrona do avião. Ponta do nariz vermelha e tudo.
Na semana passada, com outro filme, foi a minha vez. O Curioso Caso de Benjamin Button nem bem havia começado e lágrimas escorriam dos meus olhos. Dos dois. Nem foi aquela coisa uma-lagriminha-no-canto-do-olho. Não. Dos dois.
Meu irmão que é médico não gostou: “não dá para se identificar com um personagem cuja doença não existe...”. Fácil de entender, se o sujeito é médico. Porém, aquela minha amiga da viagem também não achou nada de mais no filme: “é muito sofrimento por algo irreal”. É verdade. É tudo mentira. Mas é uma mentira tão bem contada que não dá para não pensar com os próprios botões.
É uma bagunça inverter a ordem da vida: o fulano nasce velho e morre bebê. É sem pé nem cabeça. Mas o filme faz pensar nas relações, nas formas de amar, no medo de sofrer, no medo de envelhecer, de morrer, nos vários papéis que desempenhamos, querendo ou não, nas nossas vidas e nas escolhas que fazemos. Já não valeu o ingresso?
Uma filha, no leito de morte da mãe, está se despedindo. Assim começa o filme. E, para mim, relação mãe e filha é sempre emocionante. Muitas lágrimas. Apesar de ter filhos, ainda sou filha, no sentido primário de que tenho uma mãe para cuidar de mim, caso eu precise, e mesmo sabendo que essa relação um dia pode (ou vai) se inverter, confesso que ainda não pensei muito no assunto. Mas o filme faz pensar. E a história ainda nem começou.
Não ia falar de comida, mas a pipoca estava ótima. Brincadeira. Não prestei atenção na pipoca nem no relógio. O que, na minha opinião, é o melhor sinal de que o filme é ótimo. Mas eu é que não vou ficar contando a história. Só uma cena, para abrir o apetite: o ainda velho Brad e estranha Tilda Swinton (sabe quem é? Aquela de As Crônicas de Narnia e Queime Depois de Ler) estão juntos à mesa. Estão na Rússia, num hotel, só os dois. Ela oferece caviar e vodca a ele. E o ensina a comer, degustar, sentir lentamente o sabor e, com o caviar ainda na boca, tomar um gole de vodca. O filme não é todo feito de cenas assim, saborosas. Mas a vida também não. E isso é verdade. E se deixar emocionar, mesmo que seja por uma mentira, por algumas horas, não faz mal.
Na semana passada, com outro filme, foi a minha vez. O Curioso Caso de Benjamin Button nem bem havia começado e lágrimas escorriam dos meus olhos. Dos dois. Nem foi aquela coisa uma-lagriminha-no-canto-do-olho. Não. Dos dois.
Meu irmão que é médico não gostou: “não dá para se identificar com um personagem cuja doença não existe...”. Fácil de entender, se o sujeito é médico. Porém, aquela minha amiga da viagem também não achou nada de mais no filme: “é muito sofrimento por algo irreal”. É verdade. É tudo mentira. Mas é uma mentira tão bem contada que não dá para não pensar com os próprios botões.
É uma bagunça inverter a ordem da vida: o fulano nasce velho e morre bebê. É sem pé nem cabeça. Mas o filme faz pensar nas relações, nas formas de amar, no medo de sofrer, no medo de envelhecer, de morrer, nos vários papéis que desempenhamos, querendo ou não, nas nossas vidas e nas escolhas que fazemos. Já não valeu o ingresso?
Uma filha, no leito de morte da mãe, está se despedindo. Assim começa o filme. E, para mim, relação mãe e filha é sempre emocionante. Muitas lágrimas. Apesar de ter filhos, ainda sou filha, no sentido primário de que tenho uma mãe para cuidar de mim, caso eu precise, e mesmo sabendo que essa relação um dia pode (ou vai) se inverter, confesso que ainda não pensei muito no assunto. Mas o filme faz pensar. E a história ainda nem começou.
Não ia falar de comida, mas a pipoca estava ótima. Brincadeira. Não prestei atenção na pipoca nem no relógio. O que, na minha opinião, é o melhor sinal de que o filme é ótimo. Mas eu é que não vou ficar contando a história. Só uma cena, para abrir o apetite: o ainda velho Brad e estranha Tilda Swinton (sabe quem é? Aquela de As Crônicas de Narnia e Queime Depois de Ler) estão juntos à mesa. Estão na Rússia, num hotel, só os dois. Ela oferece caviar e vodca a ele. E o ensina a comer, degustar, sentir lentamente o sabor e, com o caviar ainda na boca, tomar um gole de vodca. O filme não é todo feito de cenas assim, saborosas. Mas a vida também não. E isso é verdade. E se deixar emocionar, mesmo que seja por uma mentira, por algumas horas, não faz mal.