Ano-novo chinês

Ano-novo chinês
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Por Rita Lobo - 19 de janeiro de 2009


No próximo dia 26, os chineses comemoram o início do ano de 4707. Como nós, eles também vestem roupas novas, fazem resoluções, desejam boa sorte e celebram na véspera com mesa farta para família. Para eles, porém, frango assado está no topo da lista de alimentos da sorte e o fato de o animal ciscar é irrelevante. Servido inteiro, ele representa o desejo de que a família fique unida. O ano-novo celebra também o início da primavera e, obviamente, rolinhos de primavera é que não podem faltar: eles são como lentilha, representam fortuna, prosperidade, e ainda têm formato de barra de ouro!

Pronto: família unida, próspera, o que mais? Um peixe assado, com cabeça e cauda, para que o ano comece e termine bem. Espertos, esses chineses. E é servido no começo e no fim da refeição. Aliás, tenho a impressão de que peixe é o alimento de ano-novo; está presente nas comemorações de vários calendários. Católicos, judeus, budistas, todos comem peixe, mais ou menos pelos mesmos motivos. Definitivamente é um ingrediente que não pode faltar à mesa. Representa abundância, fertilidade, amor, e ainda é saudável! Então, para mim, esse vai ser o ano do peixe. Quer dizer, na alimentação. No calendário chinês é o ano do boi, do boi da cara preta, um horror para quem tem medo de careta. E a careta da crise é bem feia, mas o ano do boi é também o ano do trabalho. O boi, além de trabalhador, é o signo da paciência, da amizade, da lealdade. O ano do boi é o ano de arrumar a casa, de dentro e de fora, organizar a vida, disciplinar a mente. E isso não é pouca coisa.

Então está criada uma nova tradição chino-baiana: a lavagem de casa, como a do Bonfim, no ano-novo chinês. Água, vassoura, escovão, aspirador, jogar fora tudo que está parado há anos no armário, criar coragem e colocar no lixo todos os pratos lascados, doar livros para a biblioteca do bairro, assumir que não vai mandar consertar o cabo daquela panela e passá-la para frente, limpar a casa, a alma e perfumar tudo com água de cheiro. Água de rosas, no meu caso.

Vermelho e dourado são as cores da sorte na China. Branco é a cor da roupa da baiana. Então vai ser branco, vermelho e dourado a cor do jantar do próximo dia 25, véspera do ano-novo chinês. Casa limpa, alma lavada, crianças já se preparando para o início do ano letivo. Pais concentrados para o ano, que agora começa antes do carnaval. À mesa, um bom frango assado, e também um peixe. Talvez o frango no jantar e o peixe para o almoço do dia seguinte. Rolinhos de primavera, bem dourados, que para não deixar a casa com cheiro de fritura vão ser do delivery. Ah, já ia me esquecendo dos noodles, eles são essenciais para uma vida longa. E não podem ser partidos. Na China não dá sorte. Aqui é falta de educação. A minha única dúvida agora é se também preciso servir lentilhas. Será que pode misturar tantas tradições? Bem, se você é brasileiro, pode.