Al Mare, o Fasano à beira-mar
Por Rita Lobo - 05 de setembro de 2007
Você já deve saber que eu gosto mesmo de escutar a conversa do vizinho. Mas quando cheguei ao Fasano al Mare, às 3 horas da tarde, o restaurante já estava na sobremesa. Em pouco tempo, o salão estaria sem mesas vizinhas. Atrizes globais, executivos estrangeiros, as senhoras loiro-praia (é aquele tom de amarelo que as usuárias pensam que é dourado, sabe?) que aproveitavam a sexta-feira para conhecer o restaurante do mais novo hotel carioca.
Os três lustres de Murano do salão são de tirar o fôlego. A vista é vista por todos os lados refletida em espelhos bisotados que fazem pensar em Veneza (não são espelhos venezianos, mas têm lá um arzinho). As cortinas brancas pensam que são as paredes do salão e se abrem aqui, se fecham ali e transformam a mesa para doze pessoas em uma sala que jura que é privé (afinal, quem vai ao Fasano quer ser visto).
Rogério Fasano, o feliz proprietário, resolve nos apresentar o hotel antes do almoço. Mas antes pergunta o que eu pedi. Peixe, claro. Entrada e prato principal. Para lembrar que estamos à beira-mar, o cardápio capricha nos peixes. Mas ele cancela. “Traga caviar”, diz ao maître. “Você precisa experimentar o nosso caviar”, ele me explica. É um caviar uruguaio trazido pela importadora da família. E Rogério, assim sem querer, dá uma aula sobre caviar. Sabe tudo. Sabe que não é para comer com gotinhas de limão: “Mas eu gosto, vai fazer o quê?”
Começamos pelo último andar, que se debruça no mar e faz acreditar estarmos num navio. É lá que fica a piscina. Linda, branca e com bordas de mármore. No corredor de outro andar, a cadeira apelidada de Big Mamma, mais para Starck, que assina o projeto arquitetônico do hotel, que para Fasano, muito mais que a alma do local. Ao lado do restaurante fica Londra, o Baretto de lá, ou o bar do hotel, que tem na parede a bandeira britânica com as cores da Itália. (Sim, Londra quer dizer Londres.) Capas de discos de vinil foram enquadradas em molduras douradas. “Finalmente encontrei uma maneira de guardar os meus discos”, ironiza Rogério. O minitour no hotel é rápido. A comida está pronta para ser levada à mesa. Ah, a mesa. É uma engenhoca que abre, encaixa, estica e se transforma graciosamente numa mesa de quatro para oito pessoas. A original, de um designer escandinavo da década de 1950, foi trazida de Londra, ops!, Londres.
Ele come um pouco de caviar, com gotinhas de limão, e se despede. Diz que precisa voltar ao trabalho. Ou quer nos deixar a sós. E o restaurante está quase vazio. Já são quase 4 horas. Uma dupla dinâmica entra para tomar um chá da tarde, a mais nova com mais de 70 anos. Mas não são vovós fofinhas, não. São uma dupla do barulho. “Lurrr-dinha, vamos fazerrr este pedido que loguinho tenho aula de computação. E o meu professor me mata se eu chegar atrasada!” Elas estão na mesa colada à minha. Pedem o cardápio. “Tem bolinho, meu filho? Esqueci os meus óculos e não estou enxerrrrr-gando nada...”, pergunta uma delas ao jovem maître, recém-chegado da Itália, cheio de graça e de sotaque.
Caiu a ficha. Que Veneza que nada! A inspiração local é um old Rio, cheio de glamour, internacional, muita bossa, tudo novo. Os tempos da Lurrrr-dinha. Mas ela não está ali para comer bolinho. Explica ao maître que leu no jornal que a decoração é “do” Philippe Starck. “Foi ele que colocou este monte de pano branco, foi?” E o maître explica com toda a sua graça e seu sotaque: “Veramente, senhora, a decoraçau é um trabalho de colaboraçau entre o senhor Starck e o senhor Rogério...”
Lurrrr-dinha quer saber quem é senhor Rogério. “Senhor Rogério Fasano”, responde o maître, sem mais explicações. Mas ela não se dá por satisfeita: “Ele é decorador, é, meu filho?”
Não, dona Lurrr-dinha, ele é “o” cara. O cara que pega um hotel no meio do caminho, herda um arquiteto renomado, mas com pouco em comum com os outros projetos que levam a marca Fasano, consegue dar liga e transforma o estabelecimento no lugar mais bacana da cidade. Quer dizer, isso é apenas a minha opinião. O maître responde: “Senhor Rogério é o proprietário”. E a amiga reclama mais uma vez: “Lurrr-dinha, olha a hora, minha aula de computação já vai começar!”