Ai, dona Rosa

Ai, dona Rosa
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Por Rita Lobo - 18 de junho de 2007


Eu estava saindo do supermercado e ela, entrando. “Oi, dona Rosa, tudo bem?” Ela me deu um beijinho e perguntou por onde eu andava. “Está sumida, não apareceu mais...” E eu respondi: “É ciúme, dona Rosa. Estou com um pouco de ciúme.” Ela arregalou os olhos levemente.

A dona Rosa é também dona do Z Deli, que fica pertinho da minha casa. De uns tempos para cá, Roberto, meu marido, resolveu almoçar lá dia sim, dia não. E, às vezes, eu o acompanho. Ele come salada de pepino com endro, salada de trigo... E outro dia, enquanto ela montava o prato, ele apontou para um peito de frango assado. Frango? Isso já é demais.

Roberto odeia frango. Em casa, frango assado já virou motivo de briga. E ele tem a cara de pau de comer um frango assado na minha frente? Ah, dona Rosa, a senhora me desculpe, mas fiquei um pouco enciumada. A senhora me entende, não é? Mas tem mais uma coisa, que eu nem ia contar.

Em setembro do ano passado, no Rosh Hashaná, conheci a Esther, mulher do rabino Nilton Bonder (eles moram no Rio e estavam em São Paulo especialmente para a data). Depois do serviço religioso, uma amiga em comum ofereceu um jantar na casa dela. Sentei ao lado da Esther e nunca mais desgrudei dela. De certa forma, ela iluminou o Rio de Janeiro para mim – e olha que isso não é pouca coisa! Todas as vezes que estou por lá, tentamos nos encontrar. Ela raramente vem para cá. E no dia-a-dia, a nossa comunicação é por e-mail. Vez ou outra, quando os assuntos se acumulam, é por telefone. Bem, dona Rosa, a única vez que a Esther manifestou algo em relação a São Paulo foi quando eu disse que, naquele dia, havia levado as crianças para almoçar aí no Z Deli. A Esther não se agüentou. “Ai, que inveja, o Z Deli a poucos quarteirões de casa!” É isso, dona Rosa, logo mais eu passo aí para comer uma fatia de cheesecake (que além de tudo, não racha no meio).